Correio dos Campos

Padre Evandro fala das alegrias, conquistas e decepções em entrevista

Padre pediu para que fieis acolham os novos sacerdotes com alegria e num profundo espírito de fé; ele pediu ainda que os piraienses rezem por ele em sua nova missão
6 de janeiro de 2020 às 19:30
(Reprodução/Facebook)

Qual a data exata que o senhor chegou em Piraí do Sul e onde passou antes daqui?

Assumi os serviços na Paróquia Senhor Menino Deus e no Santuário de Nossa Senhora das Brotas no dia 13 de fevereiro de 2010. Anteriormente, tinha sido o Reitor do Seminário Propedêutico Mãe da Divina Graça e Vigário Paroquial na Paróquia Imaculada Conceição, de Carambeí, onde permaneci por 8 anos.

Dizem que a primeira impressão é a que fica. Qual foi a sua em relação a nossa comunidade e como foi acolhido na cidade?

Em Piraí do Sul fui muito bem acolhido pelo povo que, até minha posse como pároco, não me conhecia e que eu também não conhecia. Minha primeira impressão foi muito positiva: várias pessoas vinham conversar comigo e se colocavam a serviço. Muitos manifestaram também sua preocupação com a caminhada paroquial. Encontrei um povo devoto, batalhador, simples, disponível. Também encontrei muitas rixas e brigas entre as pessoas. Nunca tinha visto tanta competição e disputas políticas como em Piraí do Sul. Quanto à realidade concreta da paróquia e santuário fiquei muito preocupado quando cheguei: via muitos lugares entulhados de coisas, abandonados e precisando de revitalização e reforma. Também algumas pastorais e movimentos estavam com poucas atividades concretas. Mas logo tudo foi melhorando com a ajuda de muita gente boa.

Nesses quase 10 anos, quais foram suas principais realizações e os maiores desafios?

Acredito que a coisa mais interessante que Deus me permitiu ajudar a acontecer foi a comunhão entre as pessoas e comunidades. Hoje temos comunidades vivas, algumas mais outras menos, mas que estão abertas para as atividades paroquiais e do santuário. Em segundo lugar, o meu desejo de tornar o Santuário de Nossa Senhora das Brotas um Santuário de verdade aconteceu e está acontecendo. Também vejo que a tentativa de fazer as pessoas de Piraí do Sul olharem o positivo, para as possibilidades, para o futuro, aconteceu: muita coisa se pode fazer ou realizar, mesmo com poucas condições e pessoas, quando se acredita e se lança para frente com generosidade.

Os desafios maiores por mim enfrentados foram as críticas sem fundamento, as resistências de algumas pessoas que estavam presas a funções ou atividades, também porque muitas eram beneficiadas por aquilo que faziam, a organização pastoral e financeira da paróquia: nesse aspecto houve muita resistência porque não se acreditava que um trabalho de comunhão e partilha fosse possível. Enfrentei ainda muitos processos e denúncias infundadas (especialmente ambientais, no santuário) que exigiram esforços e energias que poderiam ter sido gastas em construção e promoção. Uma pena que existam pessoas maldosas e que atrapalhem a caminhada não só da paróquia e do santuário, mas também do município! Que Deus tenha misericórdia dessas pessoas todas! Que aprendam a lutar pelo bem e deixem de atrapalhar!

Como era Padre Evandro em 2010 e como ele é hoje?

O Pe. Evandro que chegou em Piraí do Sul era inexperiente na administração e na condução de uma paróquia. Nunca havia sido pároco. Não conhecia nada de Santuário. Nunca havia enfrentado uma situação mais desafiadora, seja ela administrativa, judicial, canônica; era um padre que serviu na formação de pessoas (seminaristas), o que exigia um contato e uma direção mais particular, personalizada; na paróquia as coisas são amplas demais, ainda mais quando a paróquia é grande como a de Piraí do Sul. Os conflitos entre as pessoas são muitos e precisam ser resolvidos com muita prudência para que o bem aconteça: isso não é nada simples.

O atual Pe Evandro é muito mais simples, mais seguro e mais humilde. Hoje, mais do que quando aqui chegou, reconhece que é Deus que tudo conduz e que as coisas vão acontecendo quando confiamos Nele e nos dispomos a acolher cada pessoa e os seus dons. Hoje reconheço, com maior convicção, que não se faz nada sozinho e nem no tempo ou do jeito que a gente planeja.

Diante da dificuldade em conciliar tudo o que coordenava, resta alguma frustração por querer realizar algo aqui e não conseguir?

Não tive nenhuma frustração no tempo de Pároco e Reitor em Piraí do Sul. Algumas decepções, sim. Mas foram poucas. Fiquei chateado com a maldade enfrentada, com o que foi dito ou escrito, algumas vezes, sobre a minha pessoa, com as denúncias e processos judiciais contra a paróquia e santuário, mas nada que carrego comigo. Tudo passou! Eu só tinha duas coisas a fazer em Piraí do Sul: amar e servir, tendo como fonte e inspiração disso tudo o olhar amoroso de Jesus dirigido a mim. Acho que isso foi feito através de tudo o que vivi e realizei com as pessoas aqui em Piraí do Sul. Por isso saio daqui muito feliz. Também queria que o Santuário fosse Santuário e que a Paróquia fosse uma comunidade viva, de gente generosa e feliz. Acho que isso é concreto e, por isso, saio feliz e de consciência tranquila.

Em todo esse tempo de serviço e convivência o senhor aprendeu a conhecer os piraienses. Com base nessa sua experiência, como avalia a comunidade católica piraiense e a população, de forma geral?

O povo católico de Piraí do Sul é muito bom, acolhedor, dedicado. É um povo devoto, de oração e serviço. Nessa cidade as pessoas são muito generosas e disponíveis. Aqui é possível criar vínculos de amizade muito profundos. Encontrei aqui e levo no coração desta cidade e município a rica experiência de muitas amizades verdadeiras. Também há muita gente que se doa honestamente pelo bem. Mas há também, embora sejam poucas, pessoas mesquinhas, interesseiras e maldosas. Existem os que se aproveitam das situações e das outras pessoas. Impressiona-me as rixas profundas que existem no âmbito da política e ainda o negativismo e a falta de amor de tantos pela cidade, pela paróquia, pelo santuário e pela sua comunidade. Acredito que quando se ama há cuidado, aceitação e perdão. Isso falta em nossa amada Piraí do Sul.

Quando foi feito o anúncio de sua ida para Ponta Grossa, muitos fieis manifestaram tristeza e a vontade de que permanecesse na cidade. Qual mensagem o senhor deixa para essas pessoas?

Diria para todos que sejam pessoas de fé. Quando se tem fé se procura viver a vontade de Deus. A minha saída de Piraí do Sul, assim como a minha chegada aqui há 10 anos, é a vontade de Deus para nós. Vim aqui em nome de Jesus e da Igreja e saio daqui em nome de Jesus e da Igreja. É evidente que, humanamente, se constroem laços e todo um estilo de vida que, quando rompido, não é tão fácil de enfrentar. No entanto, continuamos caminhando rumo ao céu e servindo a mesma Igreja. Vamos continuar as nossas lutas e renovar-nos todos na disposição de realizar o projeto de Deus! Nada de tristeza, mas sim de certezas e fé. As mudanças são normais e necessárias. Podem ser difíceis, mas são importantes, para quem vai e para quem fica. Também sou convicto de que vivi em Piraí do Sul fazendo o possível para que tudo acontecesse do melhor jeito. Vivi aqui com intensidade. Saio de Piraí querendo viver na nova paróquia, agora Santa Rita em Ponta Grossa, com intensidade e disposição de amar e servir verdadeiramente.

Falando um pouco sobre o seu novo trabalho, como o senhor recebe a nova missão, de dirigir a Paróquia Santa Rita de Cássia?

Assumirei a missão com garra e contando com a graça de Deus, do jeito como aconteceu aqui. É evidente que agora levo no coração tudo o que vivi neste amado lugar no qual Deus me colocou e deixou por 10 anos. Hoje, acredito, sou bem melhor do que era quando cheguei em Piraí do Sul e isso, assim espero, me ajudará a ser um padre melhor lá em Ponta Grossa. Quando o bispo me propôs a nova missão, disse logo o meu “sim”. Não questionei e nem me fechei ao que acredito ser a vontade de Deus para mim nesse tempo. É evidente que senti, desde o primeiro momento, uma dor na alma, uma estranheza incrível, uma sensação esquisita. Mas logo me acalmei e hoje estou mais tranquilo porque quando se ama de verdade um povo, o ministério, o que se faz, a gente sofre para deixar, para entregar. Tudo o que senti, sinto e sentirei certamente é devido a um amor profundo ao povo, à cidade e ao que faço aqui em Piraí do Sul.

Sua atuação na paróquia e no santuário foi um divisor de águas; os católicos voltaram a ver importantes mudanças – de cunho estrutural e religioso. Nesse sentido, o que pode dizer a eles sobre a continuidade daquilo que plantou ao longo desses anos?

Muitas pessoas elogiam o meu trabalho aqui em Piraí do Sul. Sou agradecido por isso. No entanto, convido as pessoas a agradecerem a Deus por ele ter me dado condições e dons para realizar tudo o que dizem que realizei. Convido também as pessoas a enxergarem que muita gente fez e, sozinho, pouquíssimo realizei. Fiz o possível e o que deveria realizar por ministério recebido na Igreja. Agora os novos padres vão continuar realizando, juntamente com a comunidade, o que precisa ser feito e vivendo o que deve ser vivido. Se muita coisa bonita aconteceu, imagine o que pode ainda acontecer? O futuro deixemos nas mãos de Deus, mas vivamos com profundidade a nossa vocação.

Para finalizar, o senhor gostaria de falar mais algo ao povo piraiense?

Gostaria muito que todos os irmãos e irmãs da comunidade piraiense acolhessem com alegria e num profundo espírito de fé os novos sacerdotes. Também peço que os ajudem. Deus tem um projeto de amor para fazer acontecer através do seu testemunho e ministério. Que todos possam estar com as portas do coração abertas para acolhê-los. Peço ainda que rezem por mim, especialmente nesse momento do desafio de tudo deixar e assumir uma nova missão.