Correio dos Campos

Profissional que atua na linha de frente da Covid-19 diz ter sofrido preconceito após testar positivo para doença: ‘Falta de empatia’

Sueli dos Santos trabalha em uma UBS de Castro e no Hospital Regional de Ponta Grossa, nos Campos Gerais do Paraná. Técnica em enfermagem relata ter sido alvo de notícias falsas.
7 de maio de 2020 às 08:22
Sueli sentiu sintomas durante uma folga e foi afastada do trabalho — Foto: RPC Ponta Grossa

Uma técnica em enfermagem que atua na linha de frente da Covid-19 nas cidades de Castro e Ponta Grossa, na região dos Campos Gerais do Paraná, diz ter sido alvo de comentários preconceituosos após testar positivo para a doença.

Sueli Aparecida dos Santos trabalha no Hospital Regional de Ponta Grossa e também em uma Unidade Básica de Saúde de Castro.

Ponta Grossa e Castro somam juntas 22 casos da Covid-19. Em todo o Paraná são 1.627 diagnósticos e 101 mortes causadas pela doença, segundo boletim da Secretaria Estadual da Saúde desta quarta-feira (6).

A técnica em enfermagem foi diagnosticada com o coronavírus no fim de abril, após um exame feito em um laboratório particular.

Sueli conta que assim que algumas pessoas souberam que ela estava infectada começou a receber mensagens preconceituosas.

A técnica disse ainda que uma foto dela vacinando uma criança circulou pelas redes sociais, dizendo que ela estava trabalhando infectada, o que não é verdade, segundo ela.

“A pior coisa que existe é preconceito do povo. Quando descobriram, começou no meu telefone, mandando ‘enfermeira infectada’. A parte emocional foi a pior”, contou.

A profissional da saúde diz não saber ao certo como se contaminou com o vírus. Sueli conta que tomava todos os cuidados para evitar o contágio. Mesmo assim, recebeu mensagens de pessoas dizendo que ela havia buscado pelo vírus.

“A gente tá na linha de frente, a gente não sabe se a pessoa tá com o vírus ou não. Ninguém vai buscar vírus, essa falta de empatia foi a pior parte para mim”, disse.

Sintomas

Sueli está afastada do trabalho desde que começou a sentir os primeiros sintomas. A técnica de enfermagem conta que estava de folga quando começou a sentir dores de cabeça.

“Desde a contaminação não foi fácil, pelas dores, cefaleia intensa, dor no corpo. O pior de tudo foi ficar sem sentir cheiro, sem sentir gosto. Outros sintomas, tipo febre e tosse, eu não tive”, contou.

Preocupada, a técnica em enfermagem entrou em contato com uma médica amiga, que sugeriu que ela procurasse por uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA).

O primeiro teste rápido apontou negativo. No entanto, Sueli fez um segundo exame em um laboratório privado, que confirmou o diagnóstico.

“A dor é como se você fosse espancado inteiro, mas hoje já tá bem melhor, estou começando a sentir cheiro, já senti o gosto do meu café”, contou.

A profissional está isolada em casa com a família, que não apresentou nenhum sintoma da doença. Agora, Sueli aguarda ser considerada recuperada da doença para poder voltar a atuar na linha de frente.

“Eu quero voltar e vou voltar. É a minha profissão, eu trabalho por amor, jamais pensei ficar longe disso. É o meu trabalho e vou fazer ele com carinho.”

Fonte: G1