Correio dos Campos

Castro resgata história do ‘padre vigário’

Fieis da matriz Sant’Ana lembram padre Nicolau Baltasar
3 de junho de 2019 às 08:32
Padre Martinho acolheu os catequizandos, falando do amor de padre Nicolau pela pescaria. (AssCom Diocese de Ponta Grossa)

COM ASSESSORIAS – Fotografias, redação, catequizando caracterizado. Ao final, a missa celebrada em memória dos 30 anos de falecimento do padre Nicolau ‘Baltasar’ Przybycien, conhecido como ‘padre vigário’, emocionou os fieis que vieram a matriz Sant’Ana de Castro, neste domingo (2). Os padres Martinho Hartmann e Jorge Casimirski, que serviu na paróquia de 2006 a 2009, concelebraram. No último dia 30, outra celebração lembrou o dia da morte de padre Nicolau, que faleceu em um trágico acidente na PR 151, viajando de Castro para Ponta Grossa.

O pároco da matriz, padre Martinho, contou que a ideia da homenagem surgiu a partir do momento em que se recordou a data do falecimento. “Pedi que (os fieis) enviassem as recordações, fotos ou uma outra lembrança do padre, que era muito querido e marcou não só a história da Igreja mas de Castro, pelo carinho que tinha ao ministério”, citou. E muitas fotos vieram. Reprodução de batismos, casamentos, primeiras eucaristias, missas, atos solenes e até de pescaria na beira do rio Iapó. Um dos meninos das turmas de Catequese veio, inclusive, vestido de padre, carregando uma vara de pescar para lembrar a paixão do ‘padre vigário’. Um texto, baseado na redação de Margarida Maria da Silva feita na época da morte do sacerdote, o homenageou. “O sol demorou a nascer numa vâ tentativa de ocultar o trágico acontecimento. Choraram as flores, choraram os pássaros, choraram as árvores, chorou o vento…chorou também a igreja matriz”, dizia a homenagem da aluna do oitavo ano do colégio estadual Amanda Carneiro de Mello.

Cada um na igreja tinha uma história de padre Nicolau Baltasar para contar. Leonir Freski Milleo, de 81 anos, levou dez anos para ter um filho e quando ele tinha três meses, contraiu meningite e acabou com sequelas cerebrais. “Fiquei muito revoltada com Deus e deixei de vir à igreja. Dona Gorete Santos perguntou se eu não queria que ele fizesse a primeira comunhão. Eu concordei. Numa tarde, padre Nicolau fez a celebração. Meu filho tinha 15 anos. Eu contei para ele da minha revolta e ele disse que só Deus me curaria. Nisso, voltei para a Igreja. O padre morreu em 30 de maio e meu o filho um ano depois, em 8 de agosto. Tenho uma lembrança muito especial dele”, relembrou emocionada a paroquiana, integrante do Apostolado da Oração e da Legião de Maria.

Noemi Carneiro Weinert tinha 27 anos e estava grávida da primeira filha quando da morte do padre, que era muito amigo do pai dela. “Ele passava diariamente nas terças de manhã comprar frutas e verdura no nosso comércio. Passou naquela terça-feira, antes de viajar para Ponta Grossa. Padre Piero (Fietta), superior geral dos Cavanis, em Roma desde 1994, mas que morou em Castro por quase 20 anos, era muito amigo do padre, e, quando soube do acidente foi até o local, perto da cidade, e o acompanhou até o hospital. Dias antes, padre Nicolau tinha contado para ele que, todas as noites, antes de dormir, ele, da sacada da casa paroquial abençoava Castro. Padre Piero contou que, perto de Carambeí, padre Nicolau ergueu a mão e abençoou a cidade, de dentro da ambulância. Naquele momento, ele tomou para si aquela missão e continua abençoando Castro, onde quer que esteja”, rememorou Noemi. A professora aposentada, que trabalhou com o padre no colégio estadual batizado com seu nome, conta que ele adotou ‘Baltasar’ por considerar seu sobrenome muito difícil de falar.

Noemi ressaltou que a noticia do acidente foi um baque que estarreceu a todos. “Lembro que turmas inteiras de estudantes vinham durante a noite, no velório”, comentou. Rita de Cássia Spena Regueira, coordenadora da Liturgia e integrante da Pastoral Vocacional, cresceu e conviveu com o padre. ‘Quando vínhamos para a igreja e lhe pedíamos a bênção, ele nos abençoava carinhosamente, sempre com um santinho à mão. Era dinâmico, bravo e dócil ao mesmo tempo. Ficou no coração das pessoas, das famílias. Conhecia um por um. Ainda é inesquecível por sua bondade, amor, fé e carisma”.

Padre Nicolau chegou a Castro em novembro de 1943, onde permaneceu por 46 anos como vigário e professor de religião. Tinha 74 anos quando morreu. Ele está enterrado na cidade, no túmulo de frei Matias, no cemitério municipal.