Correio dos Campos

Mais de 90% das famílias estão endividadas no Paraná, aponta estudo; economista dá dicas para controlar finanças

Para Carlos e Liliane, casados há seis anos, organização mais rígida do orçamento foi a saída para conseguir equilibrar as contas com apenas um deles trabalhando.
20 de abril de 2021 às 14:32
Casal começou a fazer planilha para controle financeiro em 2016. (Foto: Arquivo Pessoal/Carlos Macedo)

A pandemia afetou, para além do sistema de saúde, a vida financeira de famílias que sentiram, no bolso, os efeitos da Covid-19. No Paraná, por exemplo, um estudo apontou que 90,5% das famílias estavam endividadas em março deste ano, no estado. O índice é o pior registrado para o mês desde o começo da série histórica, iniciada em 2010.

O indicador aponta um aumento na comparação com o mês anterior, quando o índice era de 89,2% das famílias endividadas.

Os dados são da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) em parceria com a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Paraná (Fecomércio PR). De acordo com o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), uma pessoa endividada é aquela que tem qualquer parcela em aberto de compras ou empréstimos.

Para o professor universitário Hugo Eduardo Meza Pinto, especialista em finanças pessoais, controlar os gastos e despesas por meio de planilhas é a melhor forma para uma família conseguir, antes de tudo, se organizar.

Além disso, o economista também apontou os juros – seja de parcelamentos ou financiamentos – como o principal vilão no orçamento doméstico.

Veja, mais abaixo, dicas para controlar o orçamento de casa.

“O problema é que as pessoas pensam no valor da parcela, e não no preço total. Sempre que você parcela algo, tem juro embutido ali, e aí pode parecer que naquele mês o valor cabe, mas é necessário pensar lá na frente”, salientou Hugo.

Conforme o levantamento da CNC e da Fecomércio PR, o principal fator das dívidas dos paranaenses é o cartão de crédito, que corresponde a 74,3% dos débitos em aberto – e que crescem a cada dia com os juros do rotativo.

Organização financeira e o fim dos gastos supérfluos

Para Carlos Henrique Macedo e Liliane Ramalho Menon Macedo, casados desde 2016, a necessidade de aderir a uma planilha de controle de gastos surgiu quando a esposa parou de trabalhar.

Segundo eles, com a renda familiar reduzida praticamente à metade, foi necessário encontrar formas de equilibrar as contas e não se envolver em dívidas.

“A planilha fez toda diferença porque pudemos ver onde estávamos gastando, em especial com coisas supérfluas. Aí vimos no que dava para cortar e reequilibrar, e mesmo com metade da renda, ser possível guardar um pouco de dinheiro e ainda passar o mês bem”, comentou Carlos.

Dentro de casa, Liliane assumiu a função de manter as anotações em ordem. Diariamente, ela anota todos os gastos que o casal teve – desde um pão na padaria a uma compra mais cara – e de que forma foi feito o pagamento, se em dinheiro ou cartão, por exemplo.

Além disso, todo começo de ano, os dois sentam juntos e anotam qual deve ser a receita anual da família – por meio da soma de salários -, e, desta forma, estipulam o limite e a distribuição de gastos.

“Com uma renda menor, organizar as despesas nos permite realizar sonhos. Claro que muitas vezes eles podem demorar um pouco mais para chegar, mas seguindo as regras e controlando o dinheiro é possível”, completou.

Dicas para organizar o orçamento doméstico

De acordo com o professor da Estácio, as famílias se dividem em três categorias quando o assunto é orçamento: a de endividados, de pessoas ainda não endividadas mas que estão no limite dos gastos e as famílias que conseguem guardar dinheiro ao fim do mês.

Pessoas endividadas

Para o grupo, o economista sugere soluções específicas na tentativa de retomar o controle das finanças. Segundo Hugo, o primeiro passo é tentar renegociar as dívidas e diminuir a taxa de juros paga, que acaba virando uma bola de neve.

Depois, caso a família receba algum dinheiro extra, é fundamental priorizar o pagamento dessas dívidas que aumentam a cada mês. Dessa forma, os juros diminuem e o dinheiro que iria apenas para o aumento de uma única dívida poderá ser dividido entre outros custos.

Para todos os grupos:

  • Estabeleça uma forma de controle de todos os gastos e também das receitas da família, de forma que seja possível comparar o que entra e o que sai no orçamento doméstico;
  • Valorize o próprio dinheiro e negocie as compras em lojas e também o valor de serviços. Se o pagamento for à vista, não tenha vergonha de pedir desconto;
  • Preste atenção nos juros, eles são os maiores responsáveis por dívidas que não chegam ao fim. Para fazer cálculos sobre financiamentos, o economista indica a Calculadora do Cidadão, do Banco Central, que é fácil e gratuita. Acesse aqui;
  • Tenha controle para não cair em ofertas que parecem irrecusáveis, em especial durante a pandemia, com o uso da internet para as compras. Para isso, a dica é se fazer três perguntas: “eu preciso? Eu mereço? Eu posso?”;
  • Evite parcelamentos, eles sobrecarregam seu orçamento por um prazo grande. Quando pensar em fazer um, pense no valor total, não na parcela, e veja se ele não irá te prejudicar a longo prazo;
  • Estabeleça metas com o seu dinheiro. Quanto eu quero guardar por mês? Quanto pretendo gastar com alimentação no mês?;
  • Leve uma lista do que precisa comprar sempre que for ao mercado e siga o que tiver anotado. Frequentar o local sem itens definidos, ou com fome, faz com que os gastos sejam maiores e, muitas vezes, desnecessários.

Fonte: G1