Correio dos Campos

Banco Central dividido mantém chance de Selic a 6%

28 de março de 2018 às 09:48

VALOR ECONÔMICO/Ocepar – Os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central ficaram divididos sobre dar uma sinalização mais firme de interrupção do ciclo de distensão monetária a partir de junho, por isso ainda há chances de os juros básicos caírem a 6% ao ano e até a percentuais menores.

Ata – A ata da reunião da semana passada do Copom, divulgada nesta terça-feira (27/03), afirma que “deverá” se mostrar apropriado interromper o processo de flexibilização monetária em junho. Todos os membros do colegiado também estão fechados em afirmar que “pode” ser necessário mais tempo para avaliar a evolução da economia e os efeitos dos estímulos já feitos.

Sem consenso – Não houve, entretanto, consenso para sinalizar com firmeza a interrupção do ciclo de cortes. Alguns membros do Copom defenderam uma mensagem enfática, enquanto outros argumentaram “não ver necessidade em se comprometer com essa sinalização”. Numa solução salomônica, o colegiado diz que vai parar de baixar os juros, mas pode mudar de ideia no caso de alterações “adicionais relevantes no cenário básico e no balanço de riscos para a inflação”.

Sinalização – Essa discussão dentro do Copom sobre sinalizar ou não o fim do ciclo de distensão monetária não é exatamente nova. Na reunião de fevereiro, os membros com visão mais conservadora já queriam indicar “mais fortemente a possível interrupção do ciclo” para a reunião de março. Outros defendiam uma comunicação mais simétrica, ponderando as chances tanto de o ciclo de distensão monetária pausar como de continuar.

Ala mais moderada – No fim das contas, os dados econômicos deram razão à ala mais moderada daquela reunião. Os juros não apenas caíram em março como foi necessário sinalizar antecipadamente um novo corte na reunião de maio.

Novas informações – A ata do Copom traz novas informações sobre o que levou ao corte adicional dos juros. O que está pesando, para a reunião de maio, é o compromisso com a meta de inflação de 2018, o fato de que a convergência ao objetivo está mais gradual do que o desejado e também o risco de a inflação se perpetuar em níveis baixos.

Ritmo mais lento – Todos os membros do colegiado seguem acreditando que os níveis de ociosidade da economia levarão a inflação para a meta, mas num ritmo mais lento que o previsto. Até fevereiro, acreditavam que “à medida em que a atividade econômica se recupera, a inflação tende a voltar para a meta”. Agora, a ata diz que a inflação tende a voltar “gradualmente” à meta.

Riscos – Mas aumentaram os riscos de esse cenário básico de aceleração da inflação às metas não se confirmar. Um sinal disso são os núcleos de inflação que, agora, o Copom descreve como baixos, ou mais próximos do piso da meta, definida neste ano em 3%, do que do centro dela, de 4,5%. Até fevereiro, o BC dizia que alguns deles eram “confortáveis”, ou seja, em níveis compatíveis com a convergência da inflação à meta. Além dos riscos, o BC está de olho nas projeções de inflação para 2018, que recuaram de 4,2% para 3,8% entre fevereiro e março e ficaram mais distantes do centro da meta. A meta deste ano continua a ser central para a decisão do Copom em maio.

Concentração – Já na reunião de junho e seguintes, diz a ata, o Copom estará “majoritariamente concentrado no ano-calendário de 2019”.

Balanço – O BC estará de olho, até lá, no balanço de riscos. De um lado, estão os núcleos de inflação muito baixos. De outro, o fato de que, sem a reforma da Previdência, o ajuste fiscal está incompleto, o que se configura um ambiente perigoso no caso de uma virada no cenário internacional. O Copom menciona preocupação de se guardar contra “choques adversos”, o que pode ser uma referência indireta às eleições presidenciais.

Cenário – Visto de hoje, o cenário recomenda cortar os juros em maio, de 6,5% ao ano para 6,25% ao ano, e pausar na reunião seguinte. Mas membros do Copom acham que são altas o suficiente as chances de um cenário mais benigno que o esperado, a ponto de pedirem que a porta não seja fechada para seguir com os cortes de juros em junho.