Correio dos Campos

Energia elétrica: Bandeira vermelha deve continuar acionada em novembro

24 de outubro de 2017 às 09:46

A continuação das chuvas abaixo da média histórica deve fazer com que o mês de novembro tenha novamente acionada a bandeira vermelha em seu patamar mais elevado, com acréscimo de R$ 3,50 a cada 100 quilowatts-hora (KWh) consumidos, avaliam especialistas ouvidos pelo Valor.

Cálculos – Pelos cálculos da consultoria Thymos Energia, os reservatórios das hidrelétricas do país devem chegar a novembro com 16% do volume máximo, cenário pior que o de 2001, quando houve racionamento de energia.

Risco – Ainda assim, não há risco de um novo racionamento de energia, devido à entrada em operação, desde então, de termelétricas e fontes alternativas de energia, disse João Carlos Mello, presidente da Thymos. “Estamos vendo o ano que vem com potencial de manutenção do estresse hidrológico, mas, diferentemente do que vimos em 2014 e 2015, com baixo risco de racionamento”, disse Bernardo Bezerra, diretor técnico da consultoria especializada em energia PSR. Segundo ele, a razão para isso é a sobra de energia no sistema causada pela crise econômica. “Foram dois anos de PIB negativo, isso fez com que tivéssemos uma sobra”, explicou.

Manutenção do preço – A PSR trabalha com um cenário de manutenção do preço de liquidação das diferenças (PLD) próximo do teto regulatório de R$ 533 por megawatt-hora (MWh) até o período chuvoso, que começa a partir de dezembro. A bandeira tarifária deve ficar entre vermelha e amarela, dificilmente voltando a ser verde.

Novembro – Em relação a novembro, Bezerra vê “maior probabilidade” de manutenção da bandeira vermelha no patamar 2. Esse nível de alerta para o consumidor foi acionado pela primeira vez em outubro desde sua criação, no início do ano passado.

Manutenção da cobrança – O Climatempo também trabalha com o cenário de manutenção da cobrança extra no próximo mês, apesar de contar com um retorno das chuvas em novembro, devido à continuação do despacho de termelétricas mais caras para garantir o suprimento energético do país.

Retorno gradual – A empresa de previsão meteorológica prevê um retorno gradual das chuvas a partir de novembro. “Porém, isso vai diminuir a geração eólica no Nordeste, que está muito alta”, disse Alexandre Nascimento, meteorologista do Climatempo.

Despacho de termelétricas – Por isso, deve ser necessária a continuação do despacho de termelétricas, justificando a manutenção da bandeira vermelha. Segundo Nascimento, mesmo com o retorno das chuvas, a situação dos reservatórios só começará a mostrar melhora dentro de algumas semanas. “A geração eólica vai ter uma redução grande, que será mais rápida que a recomposição dos reservatórios”, disse ele.

Projeções – Já considerando a piora do cenário hídrico em suas estimativas, analistas de inflação mantiveram suas projeções para a alta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) tanto para este ano quanto para o próximo, contando com a manutenção da bandeira vermelha no patamar 2 até o fim de 2018. Márcio Milan, da Tendências Consultoria, já assume que a bandeira tarifária seguirá na cor atual nos últimos dois meses do ano e está aguardando a revisão dos cálculos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para alterar sua previsão para o aumento do IPCA no próximo ano, atualmente em 4,1%.

Inflação – Além da aguardada mudança de metodologia de definição das bandeiras pela autarquia, que será colocada em audiência pública pela diretoria da Aneel nesta quarta-feira (25/10), André Muller, da AZ Quest, afirma que os reajustes periódicos das distribuidoras também representam risco de alta para a inflação de 2018. “A grande questão do número de energia no ano que vem não é tanto o sistema de bandeiras, mas sim o que vai sobrar para os reajustes tarifários feitos pelas empresas”, diz.

Subsistema – Nesta segunda-feira (23/10), os reservatórios do subsistema Sudeste/Centro-Oeste, que concentra a maior parte da geração hidrelétrica em operação do país, tinham chegado a 18,99% da capacidade máxima. No Nordeste, que enfrenta uma seca severa, os reservatórios estavam em 6,99% do volume máximo. A usina de Sobradinho, que representa 58,26% do subsistema, tinha 3,49% do volume útil. (Valor Econômico/Ocepar)