Correio dos Campos

Agronegócio aquece economia mesmo em época de restrição ao crédito

17 de outubro de 2017 às 13:50

Num cenário de crédito restrito, ao menos um setor desponta na linha de preferência de bancos e governo. O agronegócio, que acaba de sair de uma safra de 238 milhões de toneladas de grãos e entrar em outra estimada em até 228 milhões de toneladas, e precisa se financiar para fazer o motor rodar.

Estimativas – Segundo estimativas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a demanda potencial de capital de giro de uma safra no Brasil oscila entre R$ 360 bilhões a R$ 380 bilhões. Dos R$ 188,3 bilhões disponibilizados pelo governo a juros subsidiados – que variam de 6,5% a 8,5% ao ano – para a safra 2017/2018, R$ 150 bilhões vão para custeio.

Mercado – Ou seja, o que falta para fechar a conta deve vir do mercado, seja por meio de recursos livres dos bancos, emissão de dívidas ou por outros instrumentos do mercado de capitais.

Em alta – O fato é que a demanda por crédito do setor está alta neste ano em todas as frentes da produção agrícola. “Já foram aplicados cerca de R$ 40 bilhões do que destinamos ao crédito subsidiado do início do ano-safra em julho até final de setembro. Isso é 30% acima do valor no mesmo período no ano passado”, afirma Wilson Vaz de Araújo, diretor de crédito e estudos econômicos da Secretaria de Política Agrícola do Mapa.

Mais forte – Desse total, R$ 25 bilhões foram para custeio, 24% acima de 2016. Araújo explica que o financiamento ao custeio agrícola está mais forte este ano não só pela safra passada, que considera excepcional, mas também pela retirada da restrição de tomada do teto do capital permitido nessa linha – de R$ 3 milhões – de uma vez. “Até a safra passada, o produtor só podia ter acesso a 60% do limite do teto na primeira metade do ano-safra”, diz o diretor do Mapa.

Otimismo – O Banco do Brasil (BB), que representa quase 60% de todo crédito rural do sistema financeiro nacional, está otimista e aumentou a disponibilidade de recursos para o ano que se inicia no campo. Enquanto na safra passada liberou R$ 91bilhões e registrou desembolso de R$ 74 bilhões, neste ano, disponibilizou R$ 103 bilhões, salto de 28%.

Investimentos – “Estamos vindo de uma supersafra e o produtor, neste caso, se anima a fazer os investimentos de que necessita”, explica Marco Túlio Moraes da Costa, diretor de agronegócio do BB, que já liberou R$ 21,3 bilhões deste total até o dia 10 de outubro, 26% superior ao mesmo período da safra anterior. “A nossa expectativa é a de aplicar a totalidade dos recursos este ano para atender produtores e empresas”, indica Costa.

LCA – Outro recurso que despontou com demanda mais elevada neste início de safra vem das emissões de Letras de Crédito Agrícola (LCA), que movimentou de julho a setembro R$ 8,3 bilhões, sendo R$ 6,6 bilhões a taxas controladas de 12,75%, contra R$ 4,1 bilhões no mesmo período do ano passado.

Total – O total de emissões ofertado para esta safra é de R$ 27,3 bilhões, metade a juro controlado. O BB também se destaca neste tipo de operação. Com uma carteira total R$ 35 bilhões, só nos últimos três meses, a demanda foi de R$ 4 bilhões. “Neste caso, não dá para comparar com a safra passada porque antes só se podia usar esse recurso para custeio ou, no final da safra, para investimento. Este ano, está liberado para qualquer tipo de atividade”, analisa Costa.

Financiamento agrícola – Para que o crédito subsidiado seja possível, o Banco Central (BC) direciona 34% dos recursos do depósito à vista para o financiamento agrícola. Os bancos que não aplicam esse percentual são penalizados. “O que se discute hoje é se ainda é preciso direcionar todo esse percentual com subsídio ao campo, já que a taxa Selic está caindo. Mas essa política só deve ser revisitada no próximo exercício”, analisa Rui Pereira Rosa, executivo responsável pelo agronegócios do Bradesco, principal banco privado a atuar no crédito ao setor.

Linhas – Neste ano-safra, considerando todas as linhas, o banco liberou 33% a mais do que de julho a setembro de 2016, ou R$ 3 bilhões. Já de janeiro a setembro, o avanço foi de 52%, somando com as operações do HSBC, ou R$ 7,5 bilhões.

Carteira total – A carteira total de agro do banco em agosto estava em R$ 20,5 bilhões. “A procura está elevada e apesar do teto da taxa de 8,5% superar a Selic, ainda é atraente comparado a outras linhas de financiamento dos bancos”, justifica Rosa.

Santander – Crítico do juro subsidiado em cenário de Selic em um dígito, o Santander atingiu R$ 11,2 bilhões de saldo na sua carteira de agronegócio em julho, crescimento de 67% em 12 meses. “O Santander foi o banco que mais cresceu em desembolsos.

Carteira – Considerando a safra que se iniciou, a carteira está próxima dos R$ 12 bilhões, e apenas um terço é de crédito subsidiado”, afirma Carlos Aguiar, executivo de agronegócio do banco espanhol.

Fluxo de caixa – Para ele, os bancos estão olhando cada vez mais para o fluxo de caixa do cliente do que para o juro subsidiado e com isso as fontes livres de recursos ficaram mais competitivas. Tanto que o estoque de LCAs do Santander cresceu 30% nos últimos 12 meses encerrados em setembro, para R$ 8,5 bilhões.

CRA – Típica operação de mercado de capitais, os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) possuem estoque de R$ 20 bilhões e participam mais timidamente do financiamento ao campo. (Valor Econômico/Ocepar)