Correio dos Campos

Quase mil crianças aguardam na fila por consulta com neuropediatra pelo SUS, em Ponta Grossa; espera passa de 3 anos

Segundo prefeitura, município tem um especialista, que está cedido ao estado e, por isso, atende 12 cidades da região, com apenas quatro consultas por mês na cidade. 'Só queria poder dar uma qualidade melhor de vida', lamenta mãe.
13 de abril de 2021 às 15:07
Guilheme está em 376 na fila de espera, segundo a prefeitura. (Foto: Reprodução/RPC)

Um levantamento apontou que quase mil crianças aguardam na fila por uma consulta com um neuropediatra pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Ponta Grossa, nos Campos Gerais do Paraná. São 971 meninos e meninas aguardando um atendimento especializado que, na cidade, passa dos três anos de espera.

Sem o atendimento fornecido pela rede pública, que possui apenas um especialista na cidade, a saída para muitas famílias é buscar, mesmo sem condições, consultas particulares. Veja abaixo os detalhes do atendimento na cidade.

É o caso da Neuza Aparecida Chiamulea, mãe do Guilherme, que foi diagnosticado com autismo. Ela precisou fazer uma rifa e contar com a solidariedade de amigos e familiares para poder atender o filho.

“Para mim, como mãe, dói muito não ter como bancar o tratamento do meu filho. Três meses atrás fui na saúde, na farmácia do governo, pedir medicação, mas como eu estava com a receita do particular eles rejeitaram, porque eu precisava de uma receita pelo SUS. Mas se eu não consigo consulta pelo SUS, como vou ter a receita?”, lamentou Neusa.

A mesma situação é vivida pela Valessa dos Passos Côrtes Barbosa, mãe do Miguel. O filho está há três anos aguardando uma consulta pelo SUS em Ponta Grossa, e a mãe paga R$ 400 para poder ter uma consulta particular.

Segundo ela, o atendimento é fundamental não apenas pelo acompanhamento, mas também pelas orientações, como no caso de remédios.

Eu tenho que pagar 400 reais na consulta e não posso ficar sem. Fui na escola onde ele faz sala multidisciplinar, e estavam pedindo um laudo novo, porque o dele já tem um ano. A neuro trabalha com você, o remédio que você vai dar pra criança. Meu filho agora, eu quero trocar o remédio porque ele está inchando, mas eu não posso trocar por mim”.

Para a psicóloga Bianca dos Santos Scheifer, a falta do atendimento correto prejudica o desenvolvimento e estímulo das crianças. Segundo ela, o tempo perdido é prejudicial e dificilmente recuperado.

“Ele é tudo para mim. Eu só quero dar uma qualidade de vida melhor para ele, que eu não estou conseguindo. Só isso”, disse, entre lágrimas, Neuza.

Quatro consultas por mês

Procurada, a prefeitura afirmou que Ponta Grossa tem um médico especialista em neuropediatria na cidade. Contudo, o profissional está cedido para o governo do Paraná e, por isso, precisa atender 12 municípios dos Campos Gerais.

Com a alta demanda, a cidade acaba com apenas quatro atendimentos da especialidade, pelo SUS, no mês.

Confrontados os dados da fila e o de atendimentos, seriam necessários mais de 242 meses para zerar a fila de 971 pacientes, cerca de 20 anos.

Sobre os meninos Miguel e Guilherme, a prefeitura informou que Miguel está na posição 345 da fila, sem previsão para atendimento.

No caso de Guilherme, afirmou que não encontrou o nome do menino na fila de espera, mas que irá verificar.

Fonte: G1