Correio dos Campos

Médico do Paraná que pediu maconha e agrediu paciente também mordeu e fez ofensas racistas contra policiais durante a prisão, diz delegado

Laurenito Neves Pereira Júnior atendia usando tornozeleira eletrônica devido a crimes anteriores, segundo a polícia. Defesa disse que já tomou medidas cabíveis, e que o cliente está na condição de investigado.
5 de dezembro de 2024 às 10:36
(Foto: Reprodução/CRM-PR)

O médico Laurenito Neves Pereira Junior, de 29 anos, que pediu maconha, agrediu e subiu no carro de um paciente do pronto atendimento de Inácio Martins, na região central do Paraná, também mordeu e proferiu ofensas racistas contra policiais enquanto era abordado após a confusão.

A informação é da Polícia Militar (PM) e do delegado Rafael Rybandt, que também afirma que o médico estava sendo monitorado por tornozeleira eletrônica devido a uma autuação em flagrante feita em janeiro de 2024 por crimes como desacato, resistência e desobediência.

O caso aconteceu no domingo (1). Veja detalhes da situação com o paciente mais abaixo.

A Polícia Militar afirmou que, após ser acionada devido à confusão do médico com o paciente, chegou ao local e viu Laurenito “com estado mental alterado” em meio a uma aglomeração de pessoas.

Segundo a corporação, na tentativa de abordagem ele começou a proferir ofensas e ameaças aos policiais; o médico chamou um profissional que é natural do estado da Bahia de “índio inútil” e “cotista”, e disse ainda frases como: “você não é nada além de um substituto”, “vou enfiar uma flecha na tua cara”, entre outras ofensas e ameaças, afirma a PM.

Ainda conforme a PM, ao tentar colocá-lo na viatura os policiais foram agredidos com socos, chutes e mordidas.

“No momento da tentativa de algemamento do autor, este acabou desferindo duas mordidas, causando lesão no braço esquerdo de um dos PMs, e também devido aos socos e chutes causou lesão no joelho esquerdo e ombro esquerdo e também lesões na cabeça [dos policiais]”, complementou a corporação.

Procurada pelo g1, a defesa do médico disse que já tomou as medidas cabíveis, e ressaltou que o cliente está na condição de investigado, e não réu. A nota ainda diz que a defesa não pode falar mais sobre o caso porque o processo está em segredo de justiça.

Prisão preventiva

Segundo o delegado, o médico foi preso e atuado em flagrante pelos crimes de:

  • lesão corporal leve dolosa (contra a mãe do paciente);
  • lesão corporal leve dolosa majorada, por ter sido praticada contra agente de segurança pública;
  • injúria racial (contra um policial);
  • injúria simples (contra o paciente e a mãe dele);
  • dano simples (devido aos estragos no capô do carro do paciente);
  • ameaça (contra um policial);
  • desacato;
  • resistência.

Rafael Rybandt também afirma que, quando chegou na delegacia, o médico afirmou que possui transtornos psiquiátricos como bipolaridade e outros relativos ao uso excessivo de álcool. Ele também afirmou que estava há um tempo sem tomar as medicações necessárias para os tratamentos e que não se lembrava da ocorrência.

Após o flagrante, a Justiça converteu a prisão dele para preventiva, após pedido da Polícia Civil.

“Laurenito ofendeu a integridade corporal das vítimas, ameaçou e desacatou a equipe policial e ofendeu a dignidade e a honra subjetiva do policial militar, em razão de sua procedência nacional. Assim, considerando a gravidade em concreto das condutas supostamente praticadas e a possibilidade de reiteração criminosa, não há que se falar em concessão de liberdade provisória”, escreveu o juiz, na decisão.

O delegado afirma que também solicitou a decretação de que o homem seja impedido de atuar como médico na rede pública de qualquer cidade do país, e aguarda a decisão judicial.

Em nota, o Conselho Regional de Medicina do Paraná informou que “está acompanhando o caso e irá instaurar procedimento investigativo para apurar o ocorrido e tomar as providências cabíveis. Conforme determina o Código de Processo Ético-Profissional, o procedimento tramita em sigilo processual”.

Entenda o caso

O caso aconteceu na tarde de domingo (1). Segundo a PM, o paciente relatou que estava com a mãe em uma consulta com o médico, quando o profissional começou a agir de forma grosseira e o questionou se tinha maconha para oferecer.

Após a recusa, ele contou que o médico deu cutucões agressivos nele, e na sequência ele e a mãe saíram do consultório.

“Relatou que o médico estava sem condições de atendê-lo, e quando saiu do consultório o médico foi atrás, agarrou o mesmo pelo braço rasgando a camiseta do paciente, e desferiu a seguinte frase: ‘Vamos conversar de homem para homem, seu maconheiro’. Relatou, ainda, que ao chamar sua mãe para entrar no carro, o médico a ofendeu, e nesse momento o médico subiu em cima do seu carro”, complementa a corporação.

O delegado Rafael Rybandt também afirmou que a mulher tentou impedir que o médico entrasse no carro, e neste momento caiu no chão e machucou o braço e a perna.

De acordo com o relato do paciente à PM, ele dirigiu por alguns metros com o profissional em cima do capô até a prefeitura municipal, que fica a cerca de 100 metros do pronto atendimento, e na sequência a polícia foi acionada.

O que dizem os responsáveis pelo pronto atendimento

Em nota assinada pelo prefeito Edemétrio Benato Junior, a prefeitura municipal de Inácio Martins disse que está tomando “as devidas providências”.

“O serviço médico no pronto atendimento é prestado pela empresa terceirizada Norte Sul Serviços de Saúde Ltda. Diante dos fatos, solicitamos imediatamente a substituição do profissional envolvido para que a situação seja devidamente esclarecida e resolvida. Agradecemos pela atenção e reforçamos nosso compromisso com a qualidade e a transparência na prestação dos serviços de saúde no nosso município”, afirma o texto.

Também em nota, a Norte Sul disse lamentar o ocorrido e afirmou que desde a contratação de Laurenito, há dois meses, não identificou quaisquer indícios de conduta inadequada no Pronto Socorro de Inácio Martins.

“O aludido médico prestava plantões esporádicos para empresa no período noturno e finais de semana período de 24 horas. Porém, até o momento do ocorrido, não identificamos nada que viesse desabonar sua conduta do referido profissional, bem como, não tínhamos conhecimento prévio sobre o uso de tornozeleira eletrônica. Sendo assim, diante ao ocorrido, foram adotadas medidas como o afastamento imediato do médico de todas as atividades na Empresa Norte Sul Saúde. Ainda, notificaremos oficialmente ao Conselho Regional de Medicina (CRM) e, prestaremos apoio à vítima e sua família, incluindo ressarcimento pelos danos causados, se houver”, complementa o texto.

Fonte: g1