Correio dos Campos

Mulher que desviou vacinas contra a Covid-19 no Paraná afirma que 20 pessoas furaram a fila de imunização

Em novo depoimento à Comissão Especial da Alep, Silvania Regina Ribeiro disse que esquema de 'fura-fila' foi autorizado por coordenador de posto de vacinação.
21 de maio de 2021 às 14:59
Silvania foi ouvida por deputados estaduais que apuram irregularidades na vacinação contra a Covid-19. (Foto: RPC Londrina)

Uma falsa técnica de enfermagem que confessou ter desviado doses de vacinas contra Covid-19, em Apucarana, no norte do Paraná, disse em depoimento que pelo menos 20 pessoas furaram a fila da imunização no posto em que ela trabalhou como voluntária.

O depoimento foi feito na quinta-feira (20) à Comissão Especial da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) que investiga irregularidades na vacinação.

Silvania Regina Ribeiro, de 46 anos, foi presa no dia 15 de maio com frascos de vacina, seringas e cartões de vacinação do município, em casa.

À Polícia Civil, a mulher confessou ter desviado dois frascos para aplicação de primeira e segunda doses em uma família de Mandaguari que tem uma empresa em Apucarana.

Durante o depoimento, perguntada se ela presenciou irregularidades no posto em que atuava como voluntária, Silvania afirmou que pelo menos 20 pessoas furaram a fila de vacinação.

Ainda segundo a investigada, o coordenador de vacinação do posto era quem autorizava a aplicação irregular. Silvania informou ainda que existe uma lista com os nomes de todas as pessoas vacinadas.

Depoimento

Ainda em depoimento aos deputados, Silvania confirmou que desviou as doses e disse que aceitou ser voluntária mesmo estando desempregada e com dívidas porque queria mostrar serviço.

Ela reafirmou que pegou dois frascos de vacina da AstraZeneca, cada um com cinco doses, para imunizar cinco integrantes de uma família. Um frasco foi usado para aplicar a primeira dose e o outro estava guardado pra aplicar, em três meses, a segunda dose.

O depoimento de Silvania durou duas horas. Deputados que integram a comissão se disseram surpresos com as informações passadas pela falsa técnica de enfermagem.

O deputado Fernando Francischini (PSL), presidente da comissão, disse que irá oficiar a prefeitura de Apucarana.

“É um depoimento grave. Temos que ter cuidado, porque ela citou muitas pessoas. Deixamos a estrada aberta para o Ministério Público e Polícia Civil para fazer uma investigação dentro dessa unidade de saúde”, afirmou.

A Prefeitura de Apucarana informou que afastou do cargo o coordenador de Epidemiologia, que aceitou a presença de Silvania na campanha de vacinação.

O Autarquia Municipal de Saúde disse que apura irregularidades na imunização e que é a principal interessada na punição dos responsáveis por condutas irregulares.

Segundo a gestão, servidores serão ouvidos pela Polícia Civil na tarde desta sexta-feira (21). O município disse que está colaborando com as autoridades.

O caso

Silvania foi presa após o cumprimento de um mandado de busca e apreensão, após denúncia de que a mulher ofereceu, pelo WhatsApp, doses de vacina a pessoas que não fazem parte dos grupos prioritários.

De acordo com as investigações, a mulher tinha sido admitida para trabalhar como voluntária do processo de vacinação contra a Covid-19 no município.

Segundo o MP, a falsa técnica em enfermagem foi presa em flagrante pelo crime de peculato, podendo responder também pelos crimes de falsidade ideológica e infração de medida sanitária.

Em depoimento, Silvania disse que quis ajudar uma família que a empregou em um momento de dificuldades. Ela negou que tenha recebido dinheiro em troca das vacinas.

A suspeita disse ainda que foi registrada como técnica em enfermagem por uma decisão da instituição de idosos onde trabalhou até o fim de março. Segundo ela, tudo foi acordado em uma reunião.

Comissão da Alep

A Comissão Especial para investigar irregularidades na vacinação contra a Covid-19 foi formada no fim de abril.

Segundo a Alep, a comissão recebeu entre 800 a 1.000 denúncias de alguma irregularidade. Além disso, há indícios de pelo menos 100 casos de uso de CPFs de pessoas mortas para a vacinação.

Fonte: G1