Correio dos Campos

Justiça autoriza família de Londrina a plantar maconha para tratamento de saúde do filho

Menino de 7 anos foi diagnosticado com Transtorno de Déficit de Atenção e espectro autista. Autorização é válida por seis meses e família poderá plantar 18 pés de maconha.
9 de abril de 2021 às 15:28
(Reprodução/Internet)

Uma família de Londrina, no norte do Paraná, foi autorizada pela Justiça a cultivar pés de maconha para cunho exclusivamente medicinal. Neste caso, a liberação veio após a família provar que precisava das plantas para o tratamento de saúde do próprio filho.

Para a família, a decisão é muito mais do que uma autorização para cultivar uma planta que no Brasil é proibida. Significa ajudar o filho de apenas 7 anos que foi diagnosticado com transtorno de déficit de atenção e espectro autista.

“Conseguimos o direito de poder trazer qualidade de vida para o nosso filho. É satisfatório, é recompensador saber que o meu filho poderá ter um tratamento mais digno, com qualidade”, disse o pai do menino Felipe, Caetano de Brito Mota Junior.

Caetano e a mulher Jeniffer entraram na Justiça para poder plantar pés de maconha medicinal para extração e produção de óleo de canabidiol, e assim ter o remédio que o filho precisa.

Felipe recebeu a recomendação médica para ser tratado com medicamentos à base de cannabis, mas como o valor do remédio é muito alto, a família precisou entrar na Justiça.

A autorização judicial autorizou o cultivo por seis meses e poderão ser plantados 18 pés de cannabis medicinal para o tratamento.

“Nos deu um prazo de seis meses para podermos cultivar esse primeiro tratamento. Depois desse prazo apresentaremos documentos e laudos médicos sobre a eficácia do tratamento nesse paciente e pedindo que a terapia continue”, explicou o advogado da família Diogo Maciel.

Autoridades de segurança foram informadas da decisão e a família também recebeu um salvo conduto que em caso de fiscalização pode ser apresentado à polícia por exemplo.

O médico que receitou o uso da cannabis para o Felipe explica que a planta tem componentes que podem ajudar muito em diversos tratamentos desde que usada com recomendação de um profissional da área da saúde.

“A maioria das pessoas não sabe que o paciente autista pode ter benefícios com a cannabis, ou um paciente com epilepsia, um paciente com doença genética, síndrome de down, paralisia cerebral, ansiedade, depressão, insônia, transtorno bipolar. São mais de 100 patologias que a cannabis pode auxiliar”, explicou o médico Renan André Abdalla de Souza.

No entanto, o médico alerta. O uso da cannabis medicinal com acompanhamento é diferente de usar maconha como droga, que é sim prejudicial à saúde.

“[O produto que vem do Paraguai] Contém semente, galho, terra, às vezes inseto, é um composto que não é planta, não é o natural, é um composto químico que vai fazer mais mal ao paciente”, concluiu o médico

Para a família o objetivo agora é focar na produção do remédio e torcer para que os resultados aparecem e ajudem o filho.

“Queremos encorajar as pessoas a irem atrás, a pesquisarem sobre os benefícios e assim quebrar o preconceito. Temos oportunidade de falar isso abertamente, de falar de uma forma científica e nunca deixar como última opção, precisa ser um tratamento viável e acessível”, ressaltou a mãe de Felipe, Jeniffer Santos.

O que diz a Sociedade Paranaense de Pediatria?

Por meio de nota, a Sociedade Paranaense de Pediatria e a Associação Paranaense de Ciência Neurológicas manisfestaram preocupação com o uso in natura da planta ou a extração artesanal domiciliar. Conforme as entidades, há grave perigo de contaminação, de não se alcançar o resultado da terapia ou até de administração de doses diferentes que podem causar prejuízo à saúde.

Confira a nota:

“O uso in natura da planta ou do extrato não apresenta os padrões de segurança exigidos na administração de medicamentos para crianças e adolescentes em fase de desenvolvimento.

Um dos principais agentes farmacológicos da planta, o tetra-hidrocabinol (THC) tem seu uso proibido na infância e adolescência, por ter comprovadamente uma influência deletéria no cérebro em formação.

O uso in natura da planta ou a extração artesanal domiciliar não é capaz de garantir a ausência desta substância, não sendo, portanto, recomendado nesta faixa etária.

Além disso, como não se tem conhecimento da procedência da planta ou dos métodos de cultivo e extração, existe grave perigo de contaminação; de não se alcançar ou de se extrapolar os níveis terapêuticos desejados; ou, ainda, administrar doses diferentes que podem causar prejuízos à saúde”.

Fonte: G1