Correio dos Campos

Pediatra passa a tratar jovens com doença rara em casa para protegê-los da Covid-19

6 de maio de 2020 às 17:45
Foto: Arquivo pessoal

RAZÕES PARA ACREDITAR – Uma pediatra paulista decidiu levar para sua casa dois pacientes com uma doença rara para tratá-los em sua sala de estar, protegendo-os do risco de contágio do novo coronavírus nas instituições de saúde.

Marcia Novaes, 55 anos, acompanha os jovens Talisson Gonçalves, 8, e Vanessa Gomes da Silva, 15, há sete anos, desde que chegou em Taiobeiras, no norte mineiro.

Eles nasceram com mucopolissacaridose (MPSVI), uma doença genética do metabolismo, causada pela deficiência de enzimas. Uma vez por semana, eles precisam ser medicados por meio de uma “bomba de infusão”, que evita o avanço descontrolado da doença.

Acompanhamento constante

As infusões precisam ser feitas dentro do hospital e levam até cinco horas.

Há risco de efeitos colaterais, como reações alérgicas e parada cardíaca, o que significa que um profissional de saúde sempre precisa estar por perto para garantir a segurança de Talisson e Vanessa.

Antes da pandemia, eles saíam da cidade de Berizal, município com cerca de 4 mil habitantes, e percorriam quase setenta quilômetros em uma perua da prefeitura para serem atendidos no Pronto Socorro do Hospital Santo Antonio, em Taiobeiras.

Lá, recebiam medicação intravenosa. Os jovens são os únicos pacientes com essa doença rara em toda a região.

Mudanças pós-pandemia

Agora, eles recebem as injeções no setor de internação. Taiobeiras ainda não registrou casos de Covid-19, mas a prefeitura já tem se preparado para tal realidade. O Hospital Santo Antonio é o único da cidade.

“No pronto-socorro eles ficavam sozinhos, era um ambiente mais protegido. Com a mudança, eles teriam que atravessar o hospital e ficar na mesma área com crianças doentes. Fiquei com medo. São muito frágeis e não resistiriam à infecção pelo coronavírus”, afirma a pediatra Marcia Novaes.

Ciente disso, a médica decidiu transferi-los para sua casa, que fica a apenas cem metros do hospital.

Atendimento em casa

Após receber autorização da direção do hospital, Marcia levou as bombas de infusão – que custam R$ 30 mil por semana e são pagas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), – um balão de oxigênio e outros remédios para sua residência. Além disso, conta com a ajuda de um enfermeiro para monitorar os jovens.

Desde o início de abril, às quartas ou quintas-feiras pela manhã, a pediatra toma um café da manhã com Vanessa e Talisson. Em seguida, mede a temperatura deles, os batimentos cardíacos e só depois instala a bomba de infusão – cuja operação leva cinco horas para ser concluída.

Para entretê-os, ela liga a TV e permite que a dupla escolha o que vai assistir. “Dias desses eu vi a Vanessa sorrir pela primeira vez. Ela assistia a um desenho animado. Fiquei emocionada de ver aquele rostinho tão sofrido se iluminando. Já o Talisson prefere ouvir música.”

Ao meio-dia, eles almoçam. Duas horas depois, a perua da prefeitura já está esperando no portão para levá-los para casa. Eles se despedem e a pediatra volta para o hospital. As famílias de Vanessa e Talisson agradecem!