Correio dos Campos

Paraná tem 63 funcionários de hospitais geridos pelo estado afastados por causa da Covid-19

Até 17 de abril, dez servidores foram diagnosticados com coronavírus, segundo levantamento mais recente da Secretaria Estadual da Saúde. Outros 53 aguardavam resultado em isolamento
24 de abril de 2020 às 08:19
Profissional de saúde no Hospital Regional Universitário de Ponta Grossa — Foto: Jose Fernando Ogura/AEN

G1 – O novo coronavírus fez com que 63 funcionários que trabalham em hospitais públicos administrados pelo Governo do Paraná fossem afastados das atividades, segundo levantamento da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa) feito a pedido do G1.

Até o dia 17 de abril, data do levantamento mais recente, dez servidores haviam testado positivo para a Covid-19. Outros 53 trabalhadores aguardavam o resultado de exames laboratoriais em isolamento.

O Paraná contabiliza 1.082 casos confirmados do novo coronavírus, segundo boletim da secretaria desta quinta-feira (23). Em todo o estado, 60 pessoas morreram por conta da Covid-19.

De acordo com a Sesa, os dados refletem a realidade de 21 instituições, entre hospitais regionais e universitários.

Um primeiro levantamento feito pela secretaria no dia 7 de abril apontou que, até então, eram oito profissionais afastados, sendo dois casos confirmados e seis suspeitos. Veja no gráfico abaixo.

Profissionais afastados por causa da Covid-19

Até o dia 17 de abril, Paraná tinha 63 funcionários de hospitais públicos afastados por conta da doença

Nesta estatística está Franciele do Rosário Galdino, 30 anos, que trabalha no setor administrativo do Hospital Regional do Litoral, em Paranaguá, há 10 anos.

A servidora sentiu os sintomas do novo coronavírus no fim de março e testou positivo. Por conta disso, outros 30 funcionários que tinham contato com ela precisaram ser testados. Nenhum teve o diagnóstico confirmado.

Franciele conta que não sabe como pegou a Covid-19, pois estava seguindo as medidas de segurança para evitar o contágio. Após os primeiros sintomas, ela chegou a ficar dois dias internada.

“Os dois primeiros dias foram sintomas de como se fosse uma dengue. No terceiro dia começou a falta de ar, tosse e cansaço”, disse.

Depois de receber a alta, a servidora foi para casa onde teve que ficar isolada em um quarto sem poder ver os pais e o filho dela. A comunicação com a família só era feita pela porta ou por chamadas de vídeo no celular.

“Foi complicado. Na primeira semana foi mais pela parte dos sintomas, mas depois de alguns dias foi mais pela parte psicológica. Fiquei tentando fazer tudo para ocupar a cabeça”, lembrou.

A servidora já é considerada pela Sesa como recuperada da Covid-19 e pôde se reencontrar com a família. No entanto, Franciele ainda aguarda o resultado de outros exames para saber quando poderá voltar ao trabalho.

Protocolo

A Sesa informou que está testando e afastando todos os profissionais que apresentam síndrome gripal. Os trabalhadores precisam ficar em isolamento domiciliar.

Os resultados dos exames saem em até 72 horas. Caso o diagnóstico seja descartado, uma análise clínica é feita para que o profissional possa retornar ao trabalho.

Em caso de confirmação, o trabalhador só pode retornar quando for considerado recuperado e passar pela análise clínica.

A secretaria considera recuperado o paciente que testou positivo para a Covid-19 e está assintomático após 14 dias dos primeiros sintomas da doença. No estado, 564 pessoas que tiveram coronavírus estão recuperadas.

Enfermeiros e técnicos

O Conselho Regional de Enfermagem do Paraná (Coren-PR) também divulgou dados sobre enfermeiros e técnicos paranaenses afastados por causa do novo coronavírus. Até quinta-feira (23) o órgão registrava:

19 profissionais com suspeita em quarentena;

Um profissional internado com suspeita da Covid-19;

Seis profissionais com casos confirmados.

A presidente do Coren-PR, Simone Peruzzo, disse que o número é pequeno, mas que acredita que há subnotificação de casos de profissionais de enfermagem.

“Tenho tido problemas de hospitais que não querem passar esse relatório. Então, difícil. Todo o cuidado na notificação dos trabalhadores de saúde é estratégico. Esconder dados, isso não pode acontecer”, disse.

Segundo a presidente, estudos apontam que parte das contaminações acontecem no momento em que os profissionais retiram os equipamentos de proteção individual. Para diminuir os riscos, o conselho prepara cursos de qualificação.

Desde o início da pandemia, o Coren-PR registrou 157 denúncias de profissionais de enfermagem, que estão sendo apuradas.

De acordo com a presidente, as denúncias variam desde o receio da falta de equipamentos, até situações de assédio moral.

“Essas deficiências não são de hoje, a pandemia só colocou na vitrine a deficiência que os profissionais da saúde viveram a vida inteira. Sempre houve falta de UTI, sempre faltou respirador”, afirmou.

Para contribuir, o Coren-PR está disponibilizando atendimento psicológico para os trabalhadores já que, além da pressão, muitos profissionais têm medo de ter a doença, ou de levar o vírus para as próprias famílias.

Achatar a curva

O responsável pelo departamento de fiscalização do Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR), Carlos Naufel, acredita que a situação do Paraná em relação ao coronavírus é mais confortável que em outros estados.

Mapa mostra casos de coronavírus por cidade, no Brasil
O médico disse que, no começo da pandemia, o CRM se preocupou com a segurança dos profissionais, com a disponibilidade e uso correto dos equipamentos de proteção individual (EPIs).

“Neste primeiro momento a gente ficou bem confortável quanto aos fluxos de atendimento e disponibilidade de EPIs, mas ficamos preocupados quanto ao uso racional”, disse.

Naufel diz que uma das falhas no atendimento, não só no estado, mas no Brasil, encontra-se na falta de disponibilidade de testes para a Covid-19, o que gera a subnotificação. Mesmo assim, o médico acredita que o Paraná conseguiu achatar a curva de contaminação.

“A subnotificação não é tão importante porque existe uma relação proporcional entre casos e óbitos. Como a gente tem poucos casos graves, as UTIs têm poucos pacientes. Então, significa que temos poucos casos leves também, proporcionalmente”, explicou.

Casos de coronavírus no Paraná
Primeiros casos confirmados em 12 de março; primeiras mortes registradas em 27 de março