Casal morre de Covid-19 com menos de 24 horas de diferença, e neta lamenta: ‘Doença é real e acabou com nossa família’
A dor do luto atingiu de forma avassaladora, em menos de 24 horas, uma família de Ponta Grossa, nos Campos Gerais do Paraná. Acir Miguel Lopes, de 65 anos, e a esposa Marlene de Jesus Gardinal, de 59 anos, morreram vítimas da Covid-19 com menos de um dia de diferença.
Segundo Alexandra, neta do casal, a notícia da morte do avô, na terça-feira (6), chegou em meio ao enterro de Marlene. Para a mãe dela, que fez a liberação do corpo e acompanhou a cerimônia, o momento “foi de terror, de pânico, e parecia um filme de terror”.
As pessoas ainda não acreditam no que estamos vivendo. Covid é real e acabou com nossa família. As pessoas não respeitam as regras e acham que com elas nunca vai acontecer. Nós também achávamos que não aconteceria conosco, estávamos todos nos cuidando e cuidando ainda mais deles por serem de idade avançada”, desabafou.
Alexandra ainda falou da dor de não poder se despedir. Morando longe da cidade, no Mato Grosso, a família decidiu que seria mais seguro não fazer a viagem. Para quem participou do enterro, o caixão lacrado também tornou o adeus ainda mais doloroso.
A neta lamentou a demora na vacinação no país, além do descaso e negacionismo de algumas pessoas em relação à doença.
O avô, apesar de idoso e dentro do grupo considerado prioritário pelo Plano Nacional de Vacinação, não havia sido contemplado para receber o imunizante em Ponta Grossa, onde estão sendo vacinados os idosos de 68 anos.
“Muitas pessoas só veem a real situação que estamos quando o caixão lacrado a ser enterrado for da família. Muitas não querem a vacina. Meus avós não tiveram nem chance de tomar. Quem sabe se tivessem a oportunidade de ter se vacinado seria tudo diferente. Se a pessoa não quer se vacinar ela está admitindo que não se preocupa com ela mesma, quem dirá com as outras pessoas”, disse.
Em Ponta Grossa, a campanha de vacina contra Covid-19 chegou a ser suspensa mais de uma vez por falta de doses.
Até quarta-feira (7), 32.773 pessoas haviam sido imunizadas no município. Destas, 8.807 receberam a segunda dose da vacina.
Morte à espera de um leito
Acir foi o primeiro a ser diagnosticado com a doença, em 27 de março. Uma semana depois, ele precisou ser internado e fazer uso direito de oxigênio.
Com os exames apontando piora, o idoso passou a constar na fila à espera de um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para Covid-19, mas, diante da falta de vagas, acabou sendo atendido dentro de um quarto hospitalar.
Segundo o médico que atendeu o idoso, caso Acir não apresentasse melhora, ele precisaria ser intubado mesmo no quarto. Ele não resistiu e morreu antes de usar um respirador.
No Paraná, 470 pessoas aguardam por um leito exclusivo para a doença, sendo 304 pacientes à espera de uma vaga de UTI e 166 na fila da enfermaria, na quarta-feira, de acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (Sesa).
Antes de falecer, a mãe de Alexandra conseguiu ver o pai pela última vez.
Foi no dia em que ela precisou fazer a liberação do corpo da mãe. Dona Marlene foi internada no sábado (3), mesmo dia em que positivou para a doença pois tinha baixa saturação.
Na segunda-feira (5), ela sofreu uma parada cardíaca e foi reanimada por 16 minutos. Ela sobreviveu, mas com água e sangue no pulmão.
Os médicos fizeram um procedimento para retirada dos líquidos, mas na sequência Marlene teve uma nova parada cardíaca e morreu.
Fonte: G1