Correio dos Campos

Mãe e filho passam no vestibular para mesmo curso no Paraná: ‘Surpresa bem grande’

Entre as dificuldades vencidas por Vitor Gabriel Cagol, de 17 anos, e a mãe Irene Cagol, 51 anos, estão as fortes crises de epilepsia de Vitor e os mais de 20 anos de Irene afastada das salas de aula
21 de fevereiro de 2024 às 09:37
(Foto: Acervo pessoal)

Vitor Gabriel Cagol, de 17 anos, acaba de realizar o sonho de muitos estudantes de escola pública: ser aprovado no vestibular de uma instituição pública. A vitória pessoal ganhou ainda mais sentido ao também ver na lista de aprovados o nome da mãe, Irene Cecília Cagol, de 51 anos.

Mãe e filho serão calouros do curso de Engenharia Elétrica da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), em Foz do Iguaçu.

“A gente não esperava, foi uma surpresa bem grande. […] Quando foi divulgado o resultado e olhar o meu nome na lista, eu fiquei surpreso, eu não esperava. […] Fui olhar o nome da minha mãe se estava lá ou não, ela estava com pouco de receio de não ter passado, por conta que ela ficou bastante tempo sem estudar, mas foi uma surpresa enorme, orgulho que eu senti”, conta Gabriel.

O caminho dos dois estudantes teve muitas batalhas a serem enfrentadas. Com menos de dois anos de idade Vitor foi diagnosticado com epilepsia, doença neurológica que se caracteriza, principalmente, por alteração das funções cognitivas, crises convulsivas e espasmos.

Apesar das medicações, ele conta que às vezes tem crises fortes que demandam acolhimento de quem conhece os sintomas – e é aí que entra a mãe, que desde que o filho era criança dedica a maior parte do tempo aos cuidados dele.

“No geral, as minhas crises são mais na questão motora, às vezes enrola minha língua, ela trava a minha fala, a minha coordenação motora também não é muito boa, isso que mais me dificulta por conta que eu sou mais atrasado, principalmente pra escrever”, relata Vitor.

A dedicação ao filho surtiu resultado e também possibilitou a ela voltar aos estudos mais de 20 anos depois de concluir o ensino médio. Junto de Vitor ela passou três meses intensos no cursinho pré-vestibular gratuito oferecido pela Unioeste. Meses depois, veio a concretização do sonho.

Família cheia de orgulho

Irene conta que, no começo, escolheu a Engenharia Elétrica por ser a área desejada pelo filho. Porém, confessa que a convivência com o universo da robótica e afins a fez começar a também gostar da área.

“Ele gosta muito de robótica e a área que mais vai fazer ele se aproximar desse gosto dele, para desenvolver os projetos que ele tem, que ele já faz. […] Vivenciando isso com ele, ele me ensinando tudo, eu aprendi a gostar também”, conta a mãe.

Vitor foi classificado em ampla concorrência no 10º lugar. Irene alcançou o segundo lugar nas vagas destinadas a Pessoas com Deficiência (PCDs), por ser portadora de fibromialgia, síndrome que apresenta sintomas como dores intensas pelo corpo, além de fadiga, indisposição e sono não reparador.

Esse foi mais um desafio vencidos por eles. O nome da mãe na lista dos aprovados do vestibular deixou Vitor muito orgulhoso, especialmente pelas batalhas que ambos enfrentam – sempre unidos.

“Alguns nem querem prestar o vestibular, alguns por terem medo mesmo de não passar e outros por nem ter interesse. E ela enfrentou isso junto comigo, em meio às dificuldades, sofreu, sentiu na pele dela o que é o vestibular. Teve essa coragem de enfrentar e passou no mesmo curso. […] A alegria foi imensa, no momento a gente só queria comemorar eu e ela, então foi muito gratificante ter esse resultado”, lembra o filho.

Irene contou que não foi fácil chegar ao resultado, mas que conquistar a vaga com o filho também a deixou muito orgulhosa. E a caloura reitera que nunca é tarde demais para estudar.

“E não ter vergonha, porque no nosso caso eu não tenho, não senti vergonha de estar com ele e ele me recebeu muito bem, também não tem vergonha de estar comigo. Somos mãe e filho, mas também acima de tudo muito amigos”, disse Irene.

A ‘vovó da Engenharia’

As aulas na Unioeste devem começar em julho deste ano. E, juntos, mãe e filho já têm planos para a nova fase:

“A expectativa é que possamos honrar a faculdade que entramos e passar nesse curso e sermos bons profissionais, ser a vovó da engenharia elétrica”, brinca Irene.

“A gente quer ter essa parceria mesmo, mãe e filho, como colegas, amigos, tudo junto mesmo. Eu acho muito bonito isso da parte dela também, de querer ficar próxima de mim. A gente sempre está aproveitando todas as oportunidades, as vivências, tudo juntos”, comenta o estudante.

Fonte: G1