Correio dos Campos

‘O lixeiro agora é desenvolvedor’: Coletor usa horas vagas para estudar e realiza sonho de trabalhar com tecnologia

Lucas da Silva, mora no Paraná, conseguiu vaga em nova área após relato dele viralizar. Especialista detalha que, durante a vida, pessoas tendem a ter até 3 carreiras; veja dicas para mudança em infográfico.
14 de março de 2022 às 14:53
(Foto: Divulgação/Arquivo pessoal)

Persistência e foco foram os principais combustíveis que motivaram o paranaense Lucas da Silva Moura, de 27 anos, na luta pela transição de profissão. Trabalhando como coletor de lixo por 7 anos em Esperança Nova, no noroeste do estado, ele se dedicou nas horas vagas para realizar um sonho antigo: trabalhar com tecnologia. E conseguiu.

O resultado do esforço veio no início de março deste ano, quando o jovem foi selecionado para integrar uma empresa com sede em São Paulo, que atua há mais de 20 anos no mercado de software. O jovem será programador júnior, na área da saúde.

“Não entendia muito dessa parte de desenvolvimento, mas sempre gostei. Desde pequeno, sempre frequentava as aulas de informática no ensino médio. No ensino fundamental também já fazia na escola… Aí conforme passou o tempo, eu decidi voltar a estudar. Só que eu ia para outra área. Aí como eu não tive sucesso, eu pensei ‘Pô, eu sempre fui bom em tecnologia’. E foi a melhor decisão que eu tomei”.

Confira, abaixo, dicas de uma especialista sobre como se preparar para fazer a transição de carreira.

Quando Lucas decidiu que queria mudar de profissão, ele trabalhava, além da coleta de lixo, fazendo bicos em uma lanchonete aos finais de semana. No trabalho principal, ele gastava 10 horas por dia. O estudo acontecia, portanto, nos poucos horários que sobravam.

O conhecimento adquirido na área veio de estudos na internet, junto à graduação em análise de desenvolvimento de sistemas, curso que concluirá em junho de 2022.

“Eu conciliava minha rotina de estudos nos meus horários vagos. Sempre usei muito o YouTube, fiz cursos online para me aprofundar. E claro, além dos estudos na faculdade”.

A entrada no novo mercado que Lucas conquistou aconteceu após uma publicação dele viralizar em uma rede social. Na postagem, feita no final de fevereiro, ele contou sobre o conhecimento que possuía e disse que buscava uma oportunidade para mudar de área.

Publicação de Lucas no LinkedIn passou de 59 mil curtidas (Foto: Divulgação)

A chance apareceu menos de uma semana depois, com a repercussão da mensagem.

“Estou em busca da oportunidade do meu primeiro emprego na área de tecnologia, pois já sofri um pouco de preconceito, mas isso não me abalou […] Eu não tenho experiência profissional, mas eu me esforço muito para aprender, se me derem uma chance posso mostrar como sou capaz e eficiente”.

Segundo Lucas, ele começará no novo emprego em 4 de abril e poderá realizar as novas funções no sistema presencial ou remoto.

“Não tenho palavras para descrever. Não esperava que fosse tomar essa proporção. Tem muita gente boa ainda, que vê a necessidade do outro e quer ajudar. Que sirva de exemplo para as pessoas que tiverem um sonho, para que continuem buscando […] Espero um dia poder ajudar da mesma forma que eu fui ajudado. O lixeiro agora é desenvolvedor”.

Plano de transição

Vanessa Cepellos, professora de Gestão de Pessoas da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV EAESP), explica que no mundo contemporâneo, as pessoas tendem cada vez mais a fazer transições de carreira – uma pessoa, segundo ela, pode passar por até três áreas diferentes.

“Um dos principais pontos é fazer o planejamento da carreira. Neste sentido, é importante considerar isso tanto em termos financeiros, mas também no profissional. Pensar se ela quer uma nova área, enfim […] É importante que essa pessoa conheça as necessidades desta futura carreira”.

Segundo Vanessa, o crescimento da expectativa de vida da população é um dos fatores que influenciará, ao longo do tempo, a mudança de atuação profissional das pessoas.

“Como as pessoas estão vivendo mais tempo, muito provavelmente elas terão mais de uma carreira durante toda a vida. É um movimento crescente, porque durante a vida, vamos aprendendo e também nos interessando por outras coisas”, explica a professora.

Fonte: G1