Correio dos Campos

Idoso de 89 anos costura máscaras de tecido para doar a comunidades carentes

Com recomendação de isolamento, filho de Raymundo Gondim encontrou, nos tecidos, forma de levantar autoestima do pai. 'Achei uma ideia válida', disse o costureiro.
1 de agosto de 2020 às 09:32
Máscaras são feitas artesanalmente pelo aposentado Raymundo Gondim, de 89 anos — Foto: Alexandro Gondim/Divulgação

Os tecidos e a máquina de costura sempre estiveram presentes na rotina de Raymundo Guedes Gondim, de 89 anos e, durante a pandemia provocada pelo novo coronavírus, não poderia ser diferente. Incentivado pelo filho, ele uniu duas de suas paixões, a costura e a solidariedade, para confeccionar máscaras e doá-las a comunidades carentes de Pernambuco.

A ideia partiu do único filho do costureiro, Alexandre Gondim, para levantar o astral do pai em meio ao isolamento social.

“Ele estava só com a minha mãe, cuidando da saúde dela, que é mais frágil. Quando eu soube da iniciativa, me interessei para levantar a autoestima dele. Ele gosta muito dessa parte comunitária. Sempre foi muito prestativo. A vida dele sempre foi ajudar os outros. Ele topou logo”, disse.

Autodidata, seu Raymundo aprendeu a costurar em casa e, mesmo trabalhando com contabilidade, nunca perdeu o contato com o universo têxtil. “Ele fazia de tudo. Fantasia de carnaval, vestido de noiva, alfaiataria. E, agora, nós compramos o material e ele começou a fazer”, disse.

Para seu Raymundo, não houve dúvida na hora de aceitar o desafio. “Eu achei uma ideia muito válida, porque a maioria deles [moradores de comunidades] não usa as máscaras, porque não tem quem incentive e não tem, muitas vezes, dinheiro para adquirir uma”, afirmou.

Depois das 40 máscaras feitas no primeiro lote, o costureiro transforma, sem pressa, os metros de tecido e de elástico comprados pelo filho em objetos de proteção contra a Covid-19. Para o idoso, vontade de fazer o bem vai além da distribuição de máscaras.

“O meu pensamento para o futuro é o seguinte: eu tenho 90 anos incompletos. Em relação ao meu serviço, se eu encontrar quem queira que eu mostre como se faz algum serviço com a máquina de costura, eu estou pronto”, afirmou.

A proatividade é uma marca registrada de seu Raymundo, segundo o filho. “Ele é um exemplo de vida não só para a família, mas para os amigos todos que conhecem ele. Quando eu vejo meu pai deitado, eu fico preocupado”, afirmou Alexandre.

As máscaras produzidas pelo costureiro são destinadas ao projeto Comunidade Protegida, do instituto Cidadania para Todos. Ao todo, 60 famílias cooperam com a produção e doação para moradores de comunidades de todo o estado.

Responsável pelo projeto, a missionária Savana Nascimento vê, no costureiro, uma inspiração. “Não fomos nós que recebemos seu Raymundo, foi seu Raymundo quem nos recebeu. A idade e a disponibilidade que ele nos deu são um exemplo de dedicação e incentivo para o nosso projeto”, afirmou.

Fonte: G1