Correio dos Campos

Homem que matou namorada e escondeu corpo em geladeira não tinha aceitado separação, diz polícia

Delegada disse que suspeito era obcecado pela vítima, a perseguia no trabalho e, quando ela quis terminar a relação, ele apertou seu pescoço. Ele foi preso no sábado (18) na casa da tia, em Sabará, na Grande BH.
21 de julho de 2020 às 10:03
Elisângela de Souza foi vista pela última vez na sexta-feira (10) — Foto: Arquivo Pessoal

A delegada Ingrid Estevam disse em coletiva nesta segunda-feira (20) que o homem de 26 anos suspeito de matar e esconder o corpo de Elisângela Vespermann, de 30, dentro da geladeira da casa onde ela morava, em Belo Horizonte, cometeu o crime porque não aceitou o fim do namoro.

A Polícia Civil disse que, no dia 8 de julho, vítima e suspeito chegaram em casa, tomaram banho, jantaram e mantiveram relações sexuais.

Mais tarde, Elisângela disse ao autor que não queria permanecer com o relacionamento, mas, inconformado, ele apertou o pescoço dela e a matou asfixiada, de acordo com as investigações policiais.

A delegada disse que ele retirou as grades da geladeira, “dobrou” o corpo e o pôs lá dentro. Ele fechou com durex e virou a porta para a parede.

“Ele, friamente, resolve ocultar o cadáver. Colocou o cadáver pra não dar cheiro, maldade mesmo. Pra não exalar cheiro”, falou Ingrid.

O corpo de Elisângela foi encontrado no dia 15 pelo ex-marido porque ele desconfiou do sumiço dela.

Como se conheceram

Ingrid disse que Elisângela e o suspeito se conheceram em março deste ano por meio do WhatsApp, quando ele morava ainda em Catalão (GO). Ele teria terminado o casamento naquela cidade para vir para Belo Horizonte e se relacionar com a vítima.

Contudo, de acordo com as investigações, o homem era obcecado por Elisângela. Ele a acompanhava até o fast food onde ela trabalhava e permanecia na porta até que ela terminasse o expediente.

“Ele [o suspeito] começou a ficar muito incisivo no relacionamento. Ele ia muito ao local de trabalho para vigiá-la, para persegui-la”, disse a delegada.

A polícia disse que, às vezes, ele chegava ao trabalho de Elisângela antes mesmo dela. Essa obsessão fazia com que o suspeito dormisse na casa da vítima vários dias na semana. Ainda segundo a delegada, em junho, a vítima chegou a dizer que tinha medo dele, caso houvesse o rompimento do relacionamento.

O homem furtou o chip do celular da mulher para ter acesso às informações que ela trocava com outras pessoas.

Dia do crime

No dia 8 de julho, ele e a vítima haviam dormido juntos e os dois saíram de casa por volta das 6h. Ambos chegaram ao serviço dela às 7h. Ela entrou para trabalhar e ele ficou na porta do fast food.

Às 16h, quando ela foi fazer horário de almoço, os dois saíram juntos. Na volta, o suspeito permaneceu na porta da lanchonete.

A presença do homem incomodou a gerência do local e a Polícia Militar (PM) foi chamada. Os policiais perguntaram se ela o conhecia e ela afirmou que sim, que eles namoravam. A PM revistou o homem e foi embora. O autor permaneceu em frente ao trabalho da namorada até as 19h, horário em que ela saiu.

Os dois foram para o ponto de ônibus, mas, como o coletivo já havia passado, eles pegaram um carro por aplicativo. Uma câmera de segurança registrou os dois chegando em casa, por volta das 19h40.

Às 21h40, o crime foi consumado, segundo as investigações. Depois de esconder o corpo na geladeira, ele recolhe roupas dele e dela, liga para um familiar para buscá-lo e vai para Sete Lagoas, na Região Central de Minas Gerais.

A ausência de Elisângela no trabalho só foi percebida no dia 10, porque no dia 9 ela estaria de folga. A gerente entrou em contato e o homem com o celular da vítima se passou por ela e disse que estava no interior cuidando de uma avó e que, por isso, não iria trabalhar. O suspeito pegou fotos da internet e mandou à gerente, simulando a viagem.

Desconfiado do sumiço da ex-mulher, no dia 15 de julho, o ex-marido de Elisângela chamou um chaveiro para abrir a porta do apartamento, momento em que encontrou o corpo na geladeira.

Buscas pelo suspeito

O suspeito foi encontrado na casa da tia em Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A parente disse à polícia não sabia do crime e que não via o sobrinho havia quatro anos.

O suspeito estava dentro do quarto, mexendo nas coisas dele, e no local foi encontrada a blusa que ele usou no dia do crime. Ele negou o assassinato e depois ficou em silêncio. O homem foi encaminhado para o Centro de Remanejamento Prisional (Ceresp).

A delegada informou que não houve relacionamento extraconjungal por parte da vítima e que ela estava separada do ex-marido, que encontrou seu corpo.

O autor não tinha passagem pela polícia e trabalhava como motorista por aplicativo. Ele deve ser indiciado por feminicídio duplamento qualificado e ocultação de cadáver.

Relembre o caso

Quem encontrou o corpo foi o ex-marido da vítima que informou a polícia que eles eram casados apenas no papel e já não moravam mais juntos, mas a separação ainda não estava oficializada. O casal não se falava havia cerca de um mês.

O homem teria achado estranho o sumiço da ex-mulher e resolveu ir até o apartamento. Como não conseguiu abrir a porta, chamou o irmão e a cunhada para ajudá-lo. E, em seguida, solicitou a presença de um chaveiro para entrar no imóvel.

Quando entrou, notou que a geladeira estava virada para a parede e vedada com uma fita adesiva transparente. Ao desvirá-la, encontrou o corpo da mulher, e acionou a Polícia Militar. A perícia também esteve no local e constatou que ela apresentava sinais de violência no tórax e nos braços, além de enforcamento.

As três testemunhas que entraram no imóvel foram levadas à delegacia para prestar depoimento.

O corpo da vítima foi sepultado nesta sexta-feira (17), no cemitério Belo Vale, em Santa Luzia, na Grande BH.

BO contra namorado

Segundo a polícia, no mês passado a vítima havia denunciado o homem de 26 anos com o qual vinha mantendo uma relação extraconjugal, que é suspeito do feminicídio. No boletim de ocorrência (BO), ela registrou que o namorado não estaria aceitando o fim do relacionamento e havia ameaçado se matar, além de ter ameaçado familiares dela.

A mulher trabalhava como balconista em uma rede de fast food no bairro Guarani, também na Região Norte da capital, e não era vista no local pelos colegas desde o dia do crime.

Fonte: G1