Correio dos Campos

Backer: ‘Posso receber a notícia a qualquer momento de que ele se foi’, diz filha de vítima internada em coma irreversível

Em seis meses de investigações do caso, Marco Aurélio Cotta alternou entre períodos de melhora e piora. Já Antônio Carlos de Oliveira passou quase todo o período internado e agora se recupera em casa, enfrentando perda da locomoção e da visão.
8 de julho de 2020 às 08:48
Marco Aurélio Cotta está internado desde o ano passado por causa de intoxicação por dietilenoglicol. Na foto, ele antes da contaminação. — Foto: Ângela Cotta/Arquivo Pessoal

“A opção que a gente tem agora é encarar que eu posso receber a notícia a qualquer momento de que ele se foi”, diz a arquiteta Ângela Cotta, filha de uma das vítimas do caso Backer, cujas investigações completam seis meses nesta quarta-feira (8). Ao todo, 29 pessoas intoxicadas por dietilenoglicol já foram identificadas pela Polícia Civil, que concluiu o inquérito há um mês.

Desde o ano passado, o pai de Ângela, Marco Aurélio Cotta, está internado em Belo Horizonte, alternando quadros de piora e melhora. Durante esse período, ele chegou a ter alta do CTI e a passar quase 40 dias no quarto. Entretanto, a evolução positiva do estado de saúde não prosseguiu. Ele teve paradas cardiorrespiratórias e, na última a semana, a família recebeu dos médicos o diagnóstico do coma irreversível.

“O exame da tomografia apresentou que o cérebro dele está todo danificado. Ele não teve uma morte cerebral, mas o cérebro dele está em um estágio que não comunica com o corpo. As funções do cérebro não estão conectadas com as funções do corpo dele”, afirma a filha.

Segundo a arquiteta, a família ainda está processando a notícia trazida pelos médicos. Com a chegada do diagnóstico, a esperança se foi.

“A minha mãe está muito nervosa, muito desequilibrada. Eu tenho uma filha pequena, de 6 anos. Lidar com isso com ela, eu estou tendo que aprender. Estou procurando auxílio de psicólogos. Para mim e para o meu irmão está sendo muito difícil encarar essa realidade, mas a gente não tem outra opção”, afirma.

Marco Aurélio completou 65 anos no hospital. Ângela diz que há cerca de cinco anos o pai se aposentou para estar mais próximo da família. “Logo que minha filha completou 1 ano, ele disse que ele ia agora me ajudar a cuidar dela. Ele que levava para a escola, ele que voltava com ela da escola”, conta. Hoje, essa rotina está na lembrança.

“O máximo que ele vai conseguir viver é no estado vegetativo, é o que ele está hoje”, lamenta Ângela.

‘Sofrimento da escuridão’

Assim como Marco Aurélio, Antônio Carlos Mendes de Oliveira, outra vítima de intoxicação por dietilenoglicol, fez aniversário no hospital. O engenheiro mecânico, de 57 anos, era superintendente-geral de uma mineradora até sua vida se transformar completamente na última virada de ano. Foram 164 dias internação, e a alta médica veio no mês passado.