Correio dos Campos

Jovem dá à luz em SP sem saber que estava grávida: ‘Grande surpresa’

Em meio à pandemia de coronavírus, socorristas do Samu afirmaram que auxiliar no nascimento do bebê fez com que eles tivessem a energia renovada.
27 de abril de 2020 às 08:27
Jovem descobriu gravidez no dia do parto e acionou o Samu; equipe auxiliou no nascimento da criança — Foto: Arquivo pessoal/Glauco Zacharias

A jovem Stephanny Ribeiro Sotelo, de 19 anos, moradora de Santos, no litoral de São Paulo, descobriu que estava grávida poucos minutos antes de dar à luz a seu segundo filho, Arthur. Ela viu que a bolsa estourou e acionou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), tendo o filho no próprio quarto, com o auxílio de socorristas.

Segundo a jovem, ela não teve nenhum sintoma que a levasse a suspeitar da gravidez antes do dia do nascimento do filho. Foi apenas na manhã do dia 24 de abril que ela sentiu fortes contrações e, minutos depois, sentiu um líquido escorrendo pelas pernas. “Foi assim que notei que a minha bolsa tinha estourado e só então percebi que estava grávida. Pedi para o meu marido acionar o Samu. Foi uma grande surpresa”, conta.

De acordo com o técnico de enfermagem Glauco Zacharias Ferreira, de 39 anos, a ocorrência foi atendida pela equipe do Samu por volta das 10h de domingo (26). Glauco trabalha na “motolância” do Samu, onde o profissional usa como veículo a moto para que possa chegar mais rápido ao local de atendimento. “Quando chegou esse chamado de trabalho de parto em andamento, eu estava bem próximo do local que é perto da minha base”, relembra.

Ao chegar na residência, o técnico de enfermagem afirma que encontrou a jovem já com muita dor. “Quando cheguei já fui vendo todos os sinais vitais dela, para ver se ela estava com todos os parâmetros estáveis. Verifiquei pressão, saturação de oxigênio, glicemia capilar e dei todos esses primeiros atendimentos”, conta.

Em seguida, chegou a viatura do Samu, com técnicas de enfermagem e o condutor. “Uma das profissionais foi examinar a moça e, assim que tirou o shorts dela, o menino nasceu e fizemos todos os procedimentos de parto. Então limpamos a criança, a aquecemos, cortamos o cordão umbilical e fizemos a identificação”, explica Glauco.

Após os procedimentos, ele ficou com o bebê no colo e as técnicas de enfermagem cuidaram da mãe. A equipe colocou ela e o bebê na viatura e conduziu os dois ao hospital. “Os cuidados são os padrões que são tomados com todos os pacientes, porque não sabemos ao certo quem está contaminado ou não, então temos que tratar cada paciente como um possível transmissor da doença. Então em todos os casos utilizamos todos os EPIs para nossa proteção e também do paciente”, relata.

“Foi maravilhoso, porque nós da área de saúde estamos vendo muitas coisas ruins ultimamente, então ficamos desgastados. Participar dessa situação renovou as energias. Foi emocionante e lindo. Fiquei surpreso porque ela descobriu que estava grávida ali, no dia. E fiquei ainda mais mexido porque lembrei da minha filha. Estou afastada dela devido ao coronavírus. É uma forma de prevenção por ser da área de Saúde”.

Stephanny afirma que, como não fez pré-natal, a equipe do hospital ainda avalia de quanto tempo Arthur nasceu. Segundo a jovem, o filho está bem e há possibilidade de ambos receberam alta médica nesta segunda-feira (27).

“Não tínhamos nada para ele, está difícil porque as lojas estão fechadas e estamos tendo que comprar tudo pela internet. Mas estamos felizes com a chegada dele. Minha família ficou assustada no começo, mas agora está babando pelas videochamadas. O nascimento é algo muito positivo em um momento como esse de pandemia, em que vemos tantas notícias de pessoas perdendo a vida. Somos muito gratos a equipe do Samu por tudo que fizeram”, diz a mãe de Arthur.

Em nota, a Prefeitura de Santos confirmou que a ocorrência tratou-se de parto normal, sem intercorrências.

Gestação silenciosa

G1 já havia entrevistado mulheres que descobriram que estavam grávidas minutos antes do parto. Sobre os casos, a obstetra Mariana Paiva de Castro Sodré havia explicado que a gestação silenciosa pode acontecer, mas são raros os casos e pouco estudados pela medicina. “Há pouquíssimos artigos em termos de literatura e pesquisa”, relatou.

Sobre o não crescimento da barriga, Mariana explicou que, em alguns casos, o feto pode ter restrição de crescimento intrauterino. Com isso, fica mais difícil perceber um aumento abdominal, o que faz com que os sintomas sejam negligenciados. “Eu já tive uma paciente que só descobriu no sétimo mês. Ela já havia passado até por endoscopias, devido aos muitos enjoos”, disse a médica.

Mariana explicou também que esses casos devem ser avaliados individualmente. “Os riscos envolvem o fato de a gravidez não ser acompanhada, principalmente no pré-natal, que é fundamental para redução da mortalidade materna e fetal”, acrescentou.

Outro risco destacado pela obstetra é a exposição a situações às quais uma gestante não deveria se submeter, como suplementação inadequada. Em outros casos, as mulheres, sem saber que estão grávidas, acabam passando pelo parto na própria residência, sem apoio de uma equipe médica.

Fonte: G1