Correio dos Campos

Filha raspa tacos da sala e escreve declaração para pai com Alzheimer

28 de dezembro de 2019 às 13:12
(foto: Arquivo pessoal)

A psicóloga Anabela Sabino decidiu homenagear o pai, que tem Alzheimer, e demonstrar para ele que sempre estará lá quando precisar, e para que ele sempre se lembre do quanto ela o ama.

Ela raspou a cera do taco da sala da casa, diante da poltrona preferida dele, e escreveu uma declaração: ‘Pai, amo você’.

Anabela mora em Curitiba (PR) e o pai, de 93 anos, em Londrina, no norte paranaense. Por orientação médica, o idoso não pode sair de casa.

Sair de casa ou se mudar de residência pode acelerar o seu quadro clínico. “Longe do ambiente que lhe é familiar, ele fica muito perturbado, e os sintomas da doença se agravam”, contou Anabela.

Um amigo da família e duas cuidadoras moram com o pai da psicóloga. Eles se revezam nas tarefas do dia a dia, sempre supervisionadas pelos quatro filhos.

Anabela conta que dois meses atrás foi visitar o pai em Londrina. Ela percebeu que o chão da sala, o cômodo preferido dele, estava maltratado pelo excesso de cera.

“Sabendo do potencial do piso, resolvi raspar a cera, para ver como ficava. Depois de raspar alguns tacos, olhei para meu pai diante de mim e imediatamente me veio a ideia de fazer algo mais significativo”, justificou.

A psicóloga começou a raspar o chão e o borrão inicial se transformou na letra ‘A’. Segundo ela, a palavra principal era o verbo da frase, por isso, deveria ser ‘amo’. Em seguida, criou a frase com o espaço que sobrava.

“Escrevi bem grande para que ele não tivesse dificuldade de ler. Aquilo era o que meu coração ditou para minha mão. Fiz com tanto prazer e movida por emoção tão boa que nem percebi o tempo passar. Escrevi com uma espátula improvisada de um centímetro. Foi assim, meio sem pensar, movida pelo sentir.”

Anabela brinca que o pai nem se deu conta da sua arte, pois estava muito “envolvido com seu mundo misterioso entre um cochilo e outro”. Ao terminar, ela sentou-se ao lado dele, em sua poltrona preferida, e pediu para que o pai com Alzheimer lesse a declaração.

“Ele leu em voz alta e deu uma risadinha. Aí, lhe disse: escrevi bem na frente da sua poltrona, para o senhor ler sempre e não se esquecer de mim e o quanto eu amo o senhor. E, com muita clareza, ele me respondeu: ‘Esquecer você, nunca’, contou emocionada.

“Eu sei que chegará o dia que ele esquecerá todos os seus amores, mas sei também, que esse esquecimento é superficial, motivado por uma falha física, mas não na profundidade da alma, que é imortal.”

 

Fonte: Razões para Acreditar