Correio dos Campos

Adolescente fica cerca de 10 minutos com o coração parado e ‘renasce’ sem nenhuma sequela, no PR: ‘Fui um milagre’

Câmeras de segurança registraram momento em que Enzo Henrique Barbosa de Souza teve um mal súbito. Após exames, médicos descobriram que jovem tem doença rara, chamada miocardiopatia hipertrófica.
30 de julho de 2025 às 09:18
(Foto: Wilson Del Passo/ RPC)

Cerca de 10 minutos. Esse foi o tempo que o jovem Enzo Henrique Barbosa de Souza, de 16 anos, ficou com o coração parado. O adolescente teve um mal súbito enquanto estava com familiares e amigos em uma arena de esportes em Paranavaí, no noroeste do Paraná. Apesar do susto, ele não ficou com nenhuma sequela.

O momento foi registrado por uma câmera de segurança. Enzo aparece sentado numa cadeira e em segundos a cabeça dele cai para trás e o coração para de bater. As pessoas ao redor levaram alguns minutos para perceber o que havia acontecido.

“Tem varias pessoas que perdem a vida em episódios assim. Eu fui um milagre. Eu já estava morto praticamente. Foi Deus mesmo que colocou me de volta”, disse o jovem.

A primeira ambulância foi acionada para socorrer Enzo às 18h18 do dia 7 de maio deste ano. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) chegou quatro minutos depois e, logo em seguida, o reforço de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) móvel também apareceu.

“A gente recebeu um acionamento de uma parada cardíaca. Isso é uma corrida contra o tempo, porque cada minuto conta pra gente trazer esse coração de volta. Quanto mais rápido ele volta a bater, menos sequelas a pessoa terá. Foi feito intubação no paciente, medicações, e cerca de 10 minutos depois, a gente conseguiu fazer o coração dele voltar a bater”, explicou a médica socorrista Amanda Dal Col.

Durante a massagem cardíaca em Enzo, familiares e amigos que estavam na arena de esportes se ajoelharam e rezaram. Do mal súbito até a saída para o hospital mais próximo foram 26 minutos.

“No momento a gente só pensa em Deus né, porque assim, eu até me emociono, porque além de tudo, do atendimento rápido, de tudo que aconteceu, eu creio também que ali no momento, foi um milagre de Deus. O tempo que ele ficou parado, pelo jeito que aconteceu, já foi todo mundo rezando por ele. Pra mim ele é um milagre”, disse a mãe de Enzo, Talita Barbosa Souza.

Foram 13 dias no hospital, sendo nove deles na UTI. O cardiologista João Henrique Clasen contou que a principal preocupação da equipe médica era de que Enzo ficasse com sequelas neurológicas. Contudo, o caso do adolescente surpreendeu a todos no hospital, depois que, com a retirada dos sedativos, ele acordou e estava bem.

Mesmo assim, o que causou o mal súbito em Enzo ainda precisava ser investigado. Antes do episódio, ele nunca tinha apresentado nenhum sintoma ou algo que pudesse levar à parada cardíaca.

Mas o que provocou a parada cardíaca em Enzo?

Após diversos exames, um problema cardíaco foi diagnosticado. Segundo o cardiologista, foi descoberto que Enzo tem uma discreta alteração cardiológica, que consiste em uma hipertrofia que se chama miocardiopatia hipertrófica.

“É uma doença de origem genética que promove essa hipertrofia e predispõe a arritmias e eventos cardiovasculares. […] Um coração normal, a gente consegue perceber que no ventrículo esquerdo ele tem uma massa muscular. Essa é a região do nosso coração que tem a obrigação de bombear o sangue pro corpo todo. Nos pacientes que tem essa miocardiopatia hipertrófica, esse músculo fica mais hipertrofiado mesmo, não de forma regular”, explicou o médico.

Clasen explicou que essa é uma doença rara, que acomete um a cada quinhentos brasileiros.

No caso de Enzo, o jovem precisou colocar uma espécie de marca-passo, chamado de Cardiodesfibrilador Implantável (CDI). Conforme o cardiologista, o dispositivo consegue perceber o momento em que o paciente tem um parada cardíaca e emite choques para que o coração volte ao ritmo normal.

Testes genéticos podem auxiliar na investigação de doenças cardíacas

Agora, Enzo está sendo acompanhado de perto pelos médicos. Na última semana, ele passou por uma consulta no Instituto do Coração do Hospital das Clinicas (InCOR) da Universidade de São Paulo (USP), onde também vai realizar um teste genético.

Segundo a assistente do ambulatório de arritmias genéticas do InCOR, Luciana Sacilotto, o teste complementa a investigação da doença, pois além de avaliar o paciente, mapeia a família para verificar a probabilidade de outras pessoas desenvolverem a patologia e promover prevenções adequadas.

“Na investigação de cardiopatias genéticas e arritmias genéticas, o teste genético é fundamental. Porque ele pode nos ajudar a identificar quem tem aquela marca genética e a probabilidade de desenvolver a doença. No caso de alguns pacientes que já tem a doença, o teste genético mostra se ele tem um risco maior que outras pessoas com a mesma doença”, explicou Luciana.

Fonte: g1