Correio dos Campos

Médica suspeita de emitir laudos falsos de câncer de pele no Paraná está impedida de exercer profissão por 180 dias, decide CRM

CRM afirma que 'medida extraordinária foi tomada diante da gravidade das acusações e das informações coletadas até o momento'. Defesa de Caroline Fernandes Biscaia afirma estar 'atuando para comprovar a capacidade médica'.
10 de junho de 2024 às 14:55
(Foto: Redes sociais)

A médica Carolina Fernandes Biscaia, suspeita de emitir laudos falsos de câncer de pele em Pato Branco, no oeste do Paraná, está impedida de exercer a profissão pelo prazo de 180 dias após Interdição Cautelar Total do Conselho Regional de Medicina (CRM-PR), com aprovação do Conselho Federal de Medicina.

“A medida extraordinária foi tomada diante da gravidade das acusações e das informações coletadas por este Conselho até o momento, sendo avaliada como indispensável para a segurança dos pacientes e proteção da sociedade”, diz nota do CRM.

A decisão cautelar, emitida em maio, foi tomada a partir das denúncias sobre os laudos falsos e o processo ético em andamento poderá apurar outras questões adicionais, esclareceu o CRM.

A Polícia Civil afirmou que a investigação está em fase de finalização e que a médica foi chamada para prestar esclarecimento, mas se manteve em silêncio. A investigação apurou que os laudos falsos eram adulterados com a ajuda de uma máquina de xerox, segundo o delegado Helder Lauria.

Ainda conforme o delegado, os documentos falsos eram colocados sobre os verdadeiros e, com ajuda da máquina, eram criadas novas versões dos laudos. Pelo menos 31 vítimas denunciaram a médica, algumas, inclusive, após passarem por procedimentos desnecessários que chegavam aos R$ 13 mil, segundo a polícia. Veja mais abaixo.

A defesa da médica afirmou através de nota que ela está contribuindo para o esclarecimento dos fatos e que, anterior a decisão do CRM, Carolina interrompeu o exercício da prática médica em 25 de fevereiro e “seguirá desta forma até estarem reunidas as condições necessárias para o retorno”.

A nota diz ainda que, com relação ao CRM, que esta não é a decisão final do órgão e que a defesa está “atuando para comprovar a capacidade médica de Carolina”.

Falsificação de laudos de câncer que resultaram em investigação

A investigação da Polícia Civil contra a médica Carolina, por suspeita dela emitir laudos falsos de câncer de pele, teve início após uma paciente, que não recebeu o exame da profissional ir ao laboratório e constatar um resultado diferente do diagnosticado, denunciar o caso à polícia.

A investigação, até o momento, apurou que nas consultas a médica examinava pintas e manchas dos pacientes e afirmava que algumas delas poderiam ser cancerígenas. Na sequência, ela fazia retirada de material e encaminhava para um laboratório.

Na reconsulta, ainda de acordo com a investigação, ela apresentava ao paciente um laudo falso com diagnóstico de câncer de pele e realizava a ampliação de margem – procedimento em que é retirado um maior pedaço da pele na área suspeita de haver células cancerígenas.

Uma das vítimas compartilhou com exclusividade ao g1 em março deste ano um trecho da consulta onde a médica comemora a retirada de um falso melanoma – tipo de câncer de pele mais agressivo – de uma paciente.

A paciente fez a gravação por precaução de uma consulta com a médica, pensando em repassar o material aos familiares, uma vez que ela teve melanoma, tipo mais grave de câncer de pele, em 2013.

“Agora, eu sei que, talvez, você fique mais preocupada com a cicatriz. Mas, agora, a gente vai pegar essa lesão aqui e fazer tanto a ampliação radial que é lateral, tanto a ampliação profunda. Então, assim vai ficar uma cicatriz pouquinho maior, mas isso não é nada perto do que poderia ser”, disse Carolina à paciente.

Fonte: g1