Correio dos Campos

Pequenos produtores utilizam alta tecnologia para garantir qualidade da maçã

Seleção de plantas em laboratórios, técnicas de enxerto e controle da temperatura ajudam a manter a fruta disponível no supermercado o ano todo.
1 de junho de 2020 às 09:09
foto: Uol

Para garantir a produção de maçã de qualidade, pequenos produtores brasileiros utilizam alta tecnologia no cultivo da fruta. Seleção de plantas em laboratórios, técnicas de enxerto e controle da temperatura ajudam a garantir a disponibilidade do produto o ano todo.

O Brasil tem atualmente 4,5 mil produtores de maçã, que colhem, por ano, mais de um milhão de toneladas da fruta. Santa Catarina e Rio Grande do Sul são os estados que dividem a liderança na produção.

“Nós temos que investir muito em tecnologia para poder produzir da melhor maneira possível. Ter o retorno o mais cedo possível, após o primeiro plantio”, explica Pierre Pomagri, presidente da Associação Brasileira de Produtores de Maçã (ABPM).

O município que mais produz maçãs no Brasil é São Joaquim (SC), na serra catarinense – lugar com clima ideal para os pomares. A colheita da maçã também exige muita mão de obra. Todo ano, 5 mil trabalhadores rurais se deslocam até a cidade para trabalhar.

‘Berçário’ da macieira

O usa de tecnologia está presente desde o “berço” da macieira. O agricultor Renato Flaith tem um pomar onde produz mudas e vende para agricultores catarinenses, e até para outros estados.

“Hoje eu tenho 61 anos e praticamente tudo que eu tenho eu devo à maçã”, afirma Flaith. Essa é uma plantação de porta-enxertos, que são as plantas que vão receber as variedades de maçãs por meio da enxertia.

“Na verdade, aqui se trata de um matrizeiro do porta-enxerto Marubakaido”, explica o agricultor.

Esse tipo de planta tem rápido desenvolvimento de raízes e a precocidade. Antes, uma macieira demorava até oito anos para produzir, mas agora é possível que tenha frutos aos três anos com esse processo.

No porta-enxerto Marubakaido é encaixado um ramo da variedade que se deseja cultivar. As mais comuns são: Gala e Fuji. “Fatores que vão ser importantes para você determinar qual é o tipo de pomar que você pretende produzir e qual é o tipo de fruta”, explica Flaith.

Produção adensada

Também em Santa Catarina fica mais um polo de pesquisa de ponta da maçã, comandado pela Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural (Epagri)

Uma das pesquisas tenta provar que é possível produzir mais em áreas cada vez menores. Antes, a média era de 700 macieiras por hectare, mas os estudos conseguiram elevar esse número para 3.000.

A pesquisadora Mariucia Schlichting explica quais são os custos do pequeno produtor para um sistema adensado.

“Você vai ter um investimento inicial muito maior com aquisição de mudas, mas ele também vai ter um retorno financeiro muito maior né, principalmente nos primeiros anos porque ele já vai garantir uma produtividade inicial muito maior em relação aos pomares que são menos adensados”, explica a pesquisadora.

Em um de seus pomares de estudo, a Epagri mantém 500 pés infectados com fungos que prejudicam as plantas de ondem saem as soluções para combater as doenças.

Outro trabalho essencial é o melhoramento genético para desenvolver variedades mais resistentes a doenças. O pesquisador Marcus Kvitschal já ajudou a criar mais de dez variedades de macieiras.

A pesquisa funciona com a seleção de plantas em laboratórios e em pomares experimentais. Leva em média 20 anos até que uma nova variedade seja aprovada.

“É um volume bem grande. Eu preciso avaliar planta por planta pra identificar quais realmente são interessantes pra resolver os problemas do setor produtivo e quais não são, que serão descartados”, explica Kvitschal.

Maçã o ano todo

Toda a produção dos pequenos produtores vai para a maior cooperativa macieira do Brasil, a Sanjo, fundada por imigrantes japoneses e seus filhos há 37 anos. Por safra processa 45 mil toneladas da fruta.

Entre o final do verão e o começo do outono caminhões carregados de maçãs abastecem a cooperativa. “Eles querem uma maçã mais vermelha e doce”, relata Sérgio Mochizuki, diretor de produção

A colheita da maçã dura apenas três meses: fevereiro, março e abril, mas é possível encontrá-las no supermercado o ano inteiro.

Isso aconteça graças à tecnologia de câmaras frias gigantes, que mantém a maçã numa temperatura próxima de 0 grau. Assim o amadurecimento é bem lento. Os frutos podem ficar armazenados nessa situação por até onze meses sem estragar.

Das câmaras Frias, as maçãs passam por tanques e aí são selecionadas por funcionários. A maioria das máquinas utilizadas no processo é importada da França. Uma das mais caras pode custar R$ 20 milhões.

A máquina tira de cada maçã e um computador, em questão de segundos, avalia a imagem e faz a seleção por cor e tamanho. Do outro lado as maçãs já saem separadas em diferentes esteiras.

As maçãs vão para o mercado interno ou para países como Inglaterra, Portugal e Índia; as frutas fora do padrão são aproveitadas pra fabricação de cidra e suco.

Toda essa estrutura está nas mãos de 101 pequenos produtores de maçã de São Joaquim, juntos eles mantêm a cooperativa.

“Se cada um estivesse fazendo sua comercialização, vendendo tua fruta, assistência técnica cada um indo atrás, era só mais um produtor, mas juntos somos a maior cooperativa do país”, afirma Makoto Umemiya, diretor financeiro da Sanjo.

Fonte: G1