Correio dos Campos

Filho de imigrantes holandeses constrói veleiro para dar volta ao mundo

13 de setembro de 2017 às 11:54

Embarcação de 14 metros de comprimento e 14 toneladas tem energia produzida por placa solar, esgoto tratado e dessalinizador

No início do século 20, imigrantes holandeses se estabeleceram em Carambeí, no Paraná, e em 1925 fundaram a que seria a segunda cooperativa mais antiga do Brasil, hoje, nacionalmente conhecida como Frísia Cooperativa Agroindustrial. Estas famílias vieram ao Brasil em navios que cruzaram os mares para chegar ao novo continente.

Ao comemorar 92 anos em agosto, a cooperativa relembra este vínculo com o mar, algo simbólico e referencial, apoiando um projeto do analista de sistemas Dymphmus Vermeulem Junior e sua esposa Ana Paula de Lima. Filho de um dos presidentes da história da Frísia, Vermeulem retratará a história da imigração em outro contexto, num barco moderno que irá fazer o caminho contrário. Em setembro, o casal pretende partir em viagem para dar uma volta ao mundo em um veleiro oceânico de 14 metros de comprimento e 14 toneladas, construído por eles mesmos, que passará próximo de onde embarcaram os imigrantes pioneiros.

O pai de Junior era descendente de holandeses, nascido na Indonésia, e estava entre os primeiros imigrantes a chegar em Carambeí. Como quase todo o processo migratório foi feito por navio, estar a bordo e conviver com essas histórias aventureiras estavam no cotidiano de sua casa. “Os imigrantes holandeses têm muito vínculo com o mar. Além disso, meu avô era pescador”, ressalta Junior. A vida do casal começou a mudar quando precisaram cuidar do pai de Junior, que estava doente. Ficaram três anos se dedicando a ele e foram para a Ilha do Mel, na costa paranaense.

Na época, decidiram comprar um barco e morar em volta da ilha e surgiu a ideia de construírem juntos uma embarcação. Após cinco anos e 7,6 mil horas de trabalho, o sonho se tornou realidade. O resultado, o veleiro batizado de “Belo”, com dois quartos, dois banheiros, sala, cozinha, geladeira, freezer, micro-ondas, máquinas de lavar roupa e todo o conforto que se pode encontrar em uma casa, está pronto.

“Eu sou analista de sistemas e fazia home working. A partir de agora eu farei boat working. Não deixar a vida cair na rotina a torna mais longa”, diz Junior. Além da profissão, que o velejador pretende não abandonar, ao longo da volta ao mundo, o veleiro receberá pessoas que em algum momento queiram acompanhá-los na viagem. Isso também ajudará na subsistência do casal e na manutenção do “Belo”.

Preocupação social

A navegação é totalmente sustentável. A energia é produzida por placa solar, o esgoto é tratado antes do descarte e um dessalinizador transforma a água salgada em doce. “Construímos um veleiro com a nossa cara. Já que ele será a nossa moradia, precisávamos literalmente nos sentir em casa. É muito bom estar a bordo. Vamos viajar o mundo e realizar projetos que façam a diferença para a sociedade local”, diz Junior.

Na primeira viagem, que está prevista para o fim de setembro, o casal vai parar em pequenas comunidades e funcionar como uma ponte entre comunidades carentes e o continente. “Chegamos em um lugarejo, vimos o que eles precisam, e a partir daí vamos procurar quem pode e quer ajudar”, destaca.

Outro projeto idealizado, mas que ainda depende de patrocínio, é a colocação de postes com iluminação solar feitos com tubos de PVC nos principais pontos das comunidades visitadas. Durante a construção do “Belo”, Junior contou com a ajuda de quem ele chama de “anjos da guarda”, amigos que se mobilizaram e ajudaram na confecção do estofamento, pintura, disponibilização do galpão para a fabricação do veleiro e doações.

Roteiro

O casal irá sair de Carambeí rumo a Itajaí (SC), onde ficam por 15 dias até se familiarizarem com a “nova moradia”. De Itajaí, eles seguem até Paranaguá e ficam até o começo de dezembro.

“Precisamos nos sentir seguros para seguir viagem. Em Paranaguá já vamos começar a fazer os trabalhos sociais visitando as comunidades de Guaraqueçaba, Ilha da Peças, Tagaçaba e muitas outras”, afirma Junior. Na costa brasileira eles ficam até 2018. Em maio de 2019, quando o vento soprar a favor, sobem para o Caribe e, assim, iniciam a volta ao mundo. Além dele e de Ana Paula, Joaquim, um cãozinho da raça pinscher, também participará da aventura.

Depois do Caribe, eles atravessam o Canal do Panamá, vão até Galápagos, se dirigem para a Polinésia Francesa e seguem até o Pacífico (Taiti, Nova Zelândia, Austrália, Indonésia) até chegar ao Oceano Índico.