Como evitar que os jovens desistam da vida no campo
No primeiro debate do 5º Fórum de Agricultura da América do Sul, organizado pelo Agronegócio da Gazeta do Povo, o tema gestão e sucessão foi o destaque, nesta quinta-feira (24/08), em Curitiba. O assunto, segundo os palestrantes, é importante para garantir a segurança alimentar do planeta. “Em um mundo que terá 9 bilhões de habitantes em 2050, a agricultura terá de crescer 70%. Uma boa sucessão é fundamental para o Brasil nesse cenário de futuro”, afirmou o mediador Valter Bianchini, da FAO – divisão da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura.
Convidados – Para auxiliar nessas questões, foram convidados José Eustáquio Ribeiro Vieira Filho, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e doutor em Teoria Econômica, e o equatoriano Maximo Ochoa, diretor técnico da Fundação Hans R. Neumann Stiftung.
Não é apenas o filho – José Eustáquio alertou que encontrar um sucessor para a propriedade rural não é o suficiente. “Não é simplesmente o filho ou o genro que vai continuar todo o negócio”, afirma. Segundo o especialista, é preciso literalmente preparar o terreno para o futuro. Neste sentido, ele recomenda preparar a fazenda para inovações e para a economia da atividade rural do futuro.
Administração – “Fazendas muito grandes tendem a ser administradas como empresas familiares. Mas é importante comparar com grandes empresas, como Embraer e Petrobras”, afirma. Ele justifica o comparativo: “O setor agropecuário passou por transformações tão grandes como essas empresas. As pessoas desconhecem a importância desse setor que gera mais de 20% do PIB nacional”.
Envelhecimento – Eustáquio explicou que está ocorrendo o envelhecimento da população de fazendeiros onde a atividade rural é importante, em países como Estados Unidos, Brasil e Austrália, e que há cada vez menos pessoas trabalhando nesse setor. Portanto, é preciso gerar o interesse dos jovens para permanecerem no campo.
Plano sucessório – Para o especialista, são passos importantes para essa sucessão: o tempo de educação e o incentivo a cada membro da família a pensar sobre seu papel no processo sucessório. Ele destaca como fases críticas: o ingresso do novo gestor (filho, genro ou outro familiar) na atividade, as primeiras tomadas de decisão e, por fim, a aposentadoria. “Isso pode gerar conflitos”, alerta.
Projetos – Neste sentido, Maximo Ochoa trouxe ao painel alguns projetos realizados pela fundação Fundação Hans R. Neumann Stiftung no Brasil. Presente em dez países com grande produção de café, a entidade desenvolve ações diretamente com a agricultura familiar. E por que o café? “É a segunda bebida mais consumida do mundo, e que vai precisar ampliar a produção de 150 para 200 milhões de sacas nos próximos anos”, afirma.
Jovem no Campo – Ele destacou como exemplo o Programa Jovem no Campo, que leva às famílias cafeeiras consultoria para colocar as melhores práticas modernas no campo, com oferta de pessoal qualificado, cursos de até 400 horas e resultados com 80% de imersão no trabalho.
Sucessão familiar – Outra atividade, está em parceria com o Senar-MG, é o Programa de Sucessão Familiar. “Sucessão familiar não é somente gestão, temos de preparar uma série de considerações, um bom plano de empreendimento e deixar tudo pronto para a passagem da terra”, diz Ochoa. Neste sentido, ele destaca a importância da mecanização e da tecnologia no meio rural como atividade até mesmo para manter a atratividade do campo, e evitar que mais jovens deixem o meio rural ‘seduzidos’ pelas oportunidades em grandes cidades. (Gazeta do Povo)