Correio dos Campos

Capital de terceiros como uma solução para alavancar os negócios

*Por: Francisco Bezerra
25 de julho de 2022 às 15:14
(Foto: Divulgação)

Muitos empresários já se viram num impasse ao decidir sobre a expansão do negócio e fazer uma dívida por meio de empréstimos ou ao tentar utilizar o capital próprio como fonte de recursos para alavancar o negócio. Para quem não conhece o termo, capital de terceiros é o dinheiro que não vem de sócios, acionistas ou do lucro de suas atividades, mas de dívidas contratadas com instituições financeiras, são os chamados empréstimos ou financiamentos.

Algumas empresas, principalmente as pequenas e médias, na sua maioria familiares e que estão na sua segunda ou indo para a terceira geração, por exemplo, possuem uma certo receio de utilizar a alavancagem financeira — instrumento que permite atingir uma maior taxa de crescimento. Isso ocorre porque muitas acreditam que a utilização do capital próprio, aquele dinheiro que possuem em caixa, é sinal de solidez financeira. Mas, nem sempre essa é uma boa escolha.

Sabemos que, no Brasil, o custo de capital de terceiros é historicamente alto, as taxas de juros cobradas estão entre as maiores do mundo, fazendo com que o empresário mantenha sempre um “pé atrás” ao pensar em realizar essa captação. Além disso, a instabilidade econômica, a volatilidade nos negócios e do mercado faz com que o brasileiro tenha receio dessa captação de recursos financeiros. Ou seja, há motivos verdadeiramente sérios para evitar a utilização desse dinheiro para lançar um produto, expandir uma marca ou investir em tecnologia, por exemplo. Mas, ainda assim, a questão que fica é como as empresas podem gerar riqueza a partir do capital de terceiros?

Uma companhia pode perder oportunidades de crescimento e limitar a operação quando insiste em utilizar somente o capital próprio. Então, o cenário analisado pelo empresário é de existir uma probabilidade aceitável (risco) de que o mercado, para o seu produto, cresça ou já esteja crescendo numa proporção maior do que ele consegue financiar com capital próprio. Esse é o primeiro gatilho para se pensar em uma captação de recursos financeiros, a expectativa de aumentar a demanda.

Para ter uma ideia do mercado e analisar as possibilidades de crescimento, é preciso ter uma equipe técnica, especializada, que vai direcionar para os caminhos possíveis de expansão — e isso pode ser feito por meio da implementação da estratégia Go To Market, que ajuda a entender a necessidade do mercado e o investimento necessário, dadas as características da empresa. É necessário ainda ter um modelo de governança adequado para fornecedores, clientes e governo.

A captação de recursos de terceiros exige maior controle porque aumenta o risco financeiro da operação, o que implica em uma governança financeira ativa e eficiente. Então, o segundo gatilho é controle. Dados e informações financeiras relacionadas à execução dos planos devem estar disponíveis para os gestores da empresa. Não é prudente a captação de recursos de terceiros se não existe um mecanismo de controle adequado. Falo isso porque parte das empresas enxerga as finanças somente por meio dos relatórios gerados pela Contabilidade, apesar de precisarem conciliar as informações gerenciais com as informações contábeis — que geralmente seguem ritos para atender, em sua maioria, questões fiscais e tributárias. Com isso, as informações financeiras acabam ficando atrasadas ou agrupadas demais para serem relevantes no controle e na tomada de decisão do dia-a-dia.

O terceiro gatilho é a geração de riqueza. O custo do capital de terceiros precisa ser menor do que a riqueza gerada internamente. Para que isso ocorra, algumas atividades precisam ser realizadas dentro do que foi planejamento na fase de decisão da captação, como por exemplo, a precificação, o nível de produtividade da fábrica, a política de compras etc. Ou seja, as atividades operacionais da empresa precisam gerar uma riqueza maior do que o custo do capital de terceiros, isso também exige controle operacional.

Em um nível menor de análise, isso ocorre nas startups que estão querendo altas taxas de crescimento e precisam captar recursos, abrindo mão de parte da empresa, apesar de nesse caso a captação ser de risco. Ou seja, quem investe se torna sócio porque envolve a troca por uma parte do patrimônio da startup. Podemos fazer uma analogia interessante, pois enxergamos os gatilhos de forma clara: a) expectativa de crescimento (com muito risco); b) expectativa de geração de riqueza maior que o custo de captação (principalmente apoiado em novas soluções tecnológicas) e; c) maior controle (o nível de governança e de prestação de contas no cumprimento dos planos de uma startup é muito alto). São ideias distintas, modelos diferentes de crescimento, mas ambos podem dar certo e, obviamente, oferecem armadilhas. Mas partem de um mesmo princípio de gestão: controle.

A empresa mais tradicional pode perder oportunidades, uma startup pode assumir um nível de risco enorme e se perder no meio do caminho, mesmo com muito dinheiro. Por isso, afirmo que há um caminho de redução de risco quando se aumenta o nível da governança financeira. Assim, é possível captar recursos de terceiros e alavancar os negócios sem ficar restrito ao uso de capital próprio.