Correio dos Campos

Casal adota irmã gêmea de filha. Meninas estavam há dois anos separadas: “Não poderia dizer ‘não ‘para a irmã dela”, diz mãe

4 de agosto de 2020 às 14:58
Aline e Alice ficaram dois anos separadas (Foto: Arquivo Pessoal )

CRESCER – As gêmeas Alice e Aline têm apenas 2 anos, mas já possuem uma história impressionante para contar! Quando nasceram, as meninas foram separadas e só se reencontraram dois anos depois, após o casal Ana Cristina Almeida, 31, e Júlio Ramos, 34, as colocarem no mesmo caminho novamente.

O reencontro aconteceu em julho deste ano. No entanto, essa história começa lá em 2017. Na época, Ana Cristina, que mora em Feira de Santana (BA), trabalhava como assistente social, no Hospital Estadual da Criança. Ela ficou sabendo que uma bebê tinha sido abandonada por sua mãe biológica no hospital. A criança estava fazendo um tratamento para laringotraqueomalacia — anomalia na laringe, que pode causar problemas respiratórios. Como tinha essa condição, a bebê, chamada de Alice, não poderia ser levada para o abrigo. Assim, ela ficou por um ano na UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

“Depois de seis meses, Alice se recuperou, porém como não tinha ninguém para ficar com ela no quarto, a equipe médica a deixou na UTI. Ela tinha até um bercinho lá”, relata Ana Cristina. Foi então que a assistente social decidiu entrar com o processo de adotá-la, em 2018. Foram três meses para que ela e o marido conseguissem a guarda provisória de Alice. O casal estava junto há nove anos e não planejava ter filhos na época, mas se apaixonaram pela menina.

Após entrar com o processo, Ana e Júlio fizeram um treinamento de como cuidar da Alice, já que ela tinha feito uma traqueostomia, cirurgia que consiste na abertura de um orifício na traqueia para colocação de uma cânula, para a passagem de ar. Os pais, assim, precisavam saber quais eram os cuidados com a alimentação e higienização, para evitar infecções, além de serem orientados quanto ao uso dos medicamentos.

Segundo a mãe, no início a adaptação foi um pouco difícil, pois sua filha passou muito tempo na UTI, então tinha uma imunidade muito baixa. Nos primeiros 15 dias de adoção, ela teve uma pneumonia e teve que retornar para o hospital, ficando internada por 40 dias. No entanto, com tempo, ela logo se adaptou.

O REENCONTRO

Quando estavam fazendo o processo de adoção de Alice, o casal sabia que a filha tinha uma irmã gêmea, mas não sabia onde ela estava, pois sua família era nômade. No entanto, o juiz já tinha sinalizado que caso a menina fosse encontrada, Ana e Júlio seriam os primeiros a serem contatados.

Em 2019, a assistência social tinha acabado de descobrir que estava grávida do pequeno Pedro, que hoje está com três meses, quando recebeu a ligação do conselho tutelar dizendo que a Aline, irmã de Alice, tinha sido encontrada e estava em um abrigo em Teixeira de Freitas, na Bahia. “Eles me perguntaram se eu tinha interesse na guarda e não pensei duas vezes. Dizer não para ela era dizer não para a Alice”. Na época, a família estava passando por dificuldades financeiras, pois Júlio tinha sido demitido, mas o casal não desistiu da menina. Eles entraram com o processo de guarda e conseguiram levar Aline para casa em julho deste ano.

Antes de encontrar pessoalmente com Aline, os pais fizeram uma chamada de vídeo com as irmãs e foi muito emocionante. No entanto, o reencontro pessoalmente foi que mais arrancou lágrimas da família. “Quando chegamos, a Aline estava um pouco amedrontada. Mas, a Alice chegou sorrindo e logo foi fazer carinho no rosto da irmã. Em menos de meia hora, elas já estavam rindo e brincando.”, diz a mãe.

A família assim voltou para sua cidade em Feira de Santana e as irmãs passaram a viver uma rotina juntas. No início, a mãe diz que a Aline estava um pouco com medo, já que só tinha tido contato com as pessoas do abrigo, mas agora está bem e já até chama Ana de mãe. A assistente social relata que, às vezes, as meninas brigam, porém logo estão brincando novamente. “A Alice sente um pouco de ciúmes. ela sente mais, já que antes era só ela e agora têm mais duas crianças”.

Quanto à saúde de Alice, a mãe conta que a filha está bem melhor e apesar de não ter tirado a cânula, ela não precisa fazer tantos exames como antes. Para ajudá-la, a assistente social conta como uma grande rede apoio de amigos e familiares. “Nós recebemos muitas doações e suporte de todos, por isso sou muito grata”.