Correio dos Campos

Indústria de panificação passa por momento delicado e busca se adaptar às novas tendências de mercado

Preços dos insumos e necessidade de mão de obra qualificada são desafios a serem enfrentados em 2023
3 de fevereiro de 2023 às 13:56
(Foto: Divulgação)

COM ASSESSORIAS – A Casa da Indústria de Ponta Grossa, que reúne entidades sindicais empresariais do município e dos Campos Gerais filiadas à Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), apresenta nesta semana a quarta entrevista da série com os presidentes de seus Sindicatos Patronais. O síndico da Casa da Indústria e presidente do Sindicato da Panificação de Ponta Grossa (Sindipan), Darcy Miara Júnior, discorre sobre o preocupante cenário do setor.

Mesmo sendo um setor tradicional, a indústria da panificação passa por transformações significativas, tanto para se adaptar ao mercado cada vez mais competitivo, mas também para atender novos estilos de vida no âmbito da alimentação.

As panificadoras, além de vender os produtos, ocupam um lugar versátil sendo atualmente, em muitos casos, pontos de encontro e locais para refeições ao longo do dia, desempenhando muito mais que suas funções básicas.

Com o custo dos insumos cada vez mais caros, o setor espera um ano de 2023 difícil, como já foi 2022.

Como está o cenário da indústria da panificação no atual momento?

Na verdade, o momento está bem difícil, muitas padarias estão fechando. Não sabemos ao certo se é por problemas financeiros. O que sabemos é que acontece não só aqui em Ponta Grossa, mas também em Curitiba. Em outras regiões, sentimos também que a quantidade de panificadoras também está diminuindo.

Outro fator a ser registrado é um apagão muito grande de mão de obra. Porém, isso não acontece apenas na indústria da panificação, mas também na do metal e da madeira, por exemplo.

Vejo que esse problema de mão de obra ocorre também devido a programas sociais, o cidadão ganha R$ 600,00 para ficar em casa. Quem vai querer trabalhar? Quando se inscreve em mais de um programa, se recebe cesta básica, pode ganhar até uns R$ 1 mil e muita gente, atualmente, se contenta com isso. Entendo que seria importante, para o recebimento destes valores, que o beneficiário obrigatoriamente esteja se qualificando para o mercado de trabalho, fazendo com que a pessoa melhore a sua qualidade profissional.

Como o preço dos insumos está afetando o setor da panificação?

Praticamente tudo em uma padaria é commodity. Farinha, leite, óleo, chocolate, energia elétrica, gás de cozinha, entre outros. Então, tudo o que se vende em uma panificadora vem de commodities. Quando falamos em commodities, tudo vem do dólar. Antigamente subia apenas o dólar, mas agora também sobe o valor em dólar, agregada à diferença cambial. O mesmo podemos dizer em relação ao achatamento de salário. No final das contas, repassamos estes custos para o consumidor final. Não temos outra saída a não ser repassar.

O que o empresário do setor pode fazer para reduzir estes impactos?

Tem que levar tudo na ponta do lápis, na famosa historinha da ‘conta de padeiro’, segurar os custos e comprar barato. Uma tendência importante neste momento seriam as cooperativas de compra, em que mais padarias compram junto, podendo pressionar as empresas grandes, bem como os atacadistas, a oferecem preços melhores devido ao volume comprado.

Qual é a expectativa do setor em relação ao governo federal recém-empossado?

Falo por mim e por outros empresários do setor de panificação. Não estamos nem um pouco otimistas. A gestão inicia o mandato estourando o teto de gastos, prevendo gastar um recurso que não tem, como também propondo reformas que geram insegurança para o empresariado. Sempre quem paga a conta é o empresário.

Uma outra preocupação é a possibilidade de alterações na legislação trabalhista, anunciada pelo atual governo, que acaba por gerar insegurança jurídica.

Em relação às negociações sindicais, a partir de agora, qual é a expectativa?

Independentemente do governo, as negociações sindicais sempre foram combativas. Acredito que o sindicato dos trabalhadores possa vir com mais vontade de debater, embora termos um bom relacionamento com o sindicato profissional. No entanto, pelo próprio contexto econômico, teremos dificuldade em avançar nas negociações da categoria.

Sobre o governo municipal, o que esperar para o setor de panificação?

Quando falamos em qualificação, o que o município não entende é o que um curso de panificação, hoje, deve ter no mínimo 220 horas para um auxiliar. Muitas vezes são oferecidos cursos mais enxutos, mas que não têm a mesma validade para nós do setor. Para colocar no mercado, o trabalhador deve ter uma formação adequada. Além disso, os cursos devem ser direcionados e não tudo em um curso apenas, isto é, um curso específico para panificação, outro para confeitaria, e assim por diante.

E no caso, da Fiep, podemos dizer que estão dando conta de atender esta demanda?

A Federação, através do Senai, atua na formação de mão de obra e sempre nos dá apoio. É importante registrar que a Fiep está realizando um trabalho de reestruturação do Sesi e do Senai e que isso está sendo muito bem-sucedido. Esta gestão está resgatando boas práticas que deram certo e que eram utilizadas anteriormente pela Fiep.

Como o senhor avalia 2023 para do setor de panificação?

Hoje, o custo de um equipamento de panificação está muito alto. Uma batedeira nova e de boa qualidade custa em torno de R$ 50 mil, um forno em torno de R$ 40 mil. O que quero dizer é que o custo em equipamentos é alto em uma panificadora. O mesmo podemos dizer sobre o preço de mão de obra de manutenção. Para este ano, não estou otimista e percebo que o setor como um todo não está.

E a concorrência com grandes mercados é um complicador para as panificadoras?

Os mercados pegam pesado, porque contam com aproximadamente 6 mil itens e veem os produtos de panificação apenas como um chamariz, o que joga o preço destes produtos lá embaixo. O mesmo acontece em alguns postos de combustíveis. Porém, mesmo com uma qualidade inferior para o cliente, infelizmente não temos como correr, pois não temos como vender combustível na panificadora, muito menos vender 6 mil produtos na padaria. Vivemos uma concorrência predatória, mas o diferencial do setor sempre foi a alta qualidade dos produtos e a excelência no atendimento dos nossos clientes.

Nas próximas semanas, a Casa da Indústria divulgará as entrevistas realizadas com os presidentes dos Sindicatos de Extração de Minerais Não Metálicos do Paraná (Sindiminerais-PR); e de Olarias e Cerâmicas do Norte do Paraná (Sindicer).

As opiniões expressas nesta série de entrevistas são dos presidentes dos sindicatos, não necessariamente representando posicionamentos da Fiep.